'Gata Velha Ainda Mia' traz clima lésbico e Regina Duarte assustadora

Publicado em 15/05/2014

Regina Duarte e Bárbara Paz em 'Gata Velha Ainda Mia', em cartaz na cidade

Marcio Claesen

Há mais de 30 anos, Regina Duarte começou a tentar se descolar do título de 'namoradinha do Brasil'. Para isso, foi Malu, Porcina, Maria do Carmo e Clô Hayalla, dentre os papéis fortes e desafiadores que encarou na TV. Este último, aliás, na novela O Astro (2011), foi o responsável por levar a atriz ao personagem que talvez seja o mais desafiador de sua carreira, a escritora Gloria Polk, no filme Gata Velha Ainda Mia, que estreia nos cinemas na quinta-feira, 15.

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O diretor Rafael Primot, que também é ator e fez parte do elenco de O Astro, contou ao Guia Gay Floripa como pensou em Regina ao escalar o elenco. "Um dia, nos bastidores, ela, olhando pelo espelho do camarim, me disse que tinha vontade de fazer papéis variados, mas, por um acaso da vida, acabava sempre sendo chamada para fazer personagens bastante parecidos entre si. Ela disse que sentia saudade de fazer algo diferente como em Roque Santeiro e de se experimentar no cinema. Isso não saiu da minha cabeça."

A experimentação deu certo. Regina está assustadoramente louca, malvada e sarcástica como Glória, escritora que passou 17 anos sem escrever e que não consegue terminar o novo livro. Neste processo, ela aceita dar entrevista a uma jornalista sofisticada de uma revista feminina, Carol (Bárbara Paz), que vem a ser também mulher de um dos ex-maridos de Glória.

Toda a ação se passa no apartamento da escritora, mas em nenhum momento fica a sensação característica de filmes do gênero - baseado em conversas com poucos personagens no mesmo ambiente, o conhecido "teatro filmado". Em sua primeira experiência na direção - e talvez ajudado pelo tema do longa-, Primot acertou em usar o pouco espaço das cenas para deixar o clima ao mesmo tempo intimista e claustrofóbico, valorizando o gênero thriller psicológico que vai tomando conta do filme.

Dinheiro curto/Rédea curta
O diretor explica que a limitação de cenário ocorreu por conta do baixo orçamento da produção. Daí veio uma pergunta posta a si mesmo: "Mas como manter o interesse do espectador em um filme que acontece quase todo em um mesmo lugar?" Ele responde: "Teríamos que distrair um pouco os olhos do espectador e amarrá-lo no roteiro, nas viradas, segurá-lo na rédea curta".

O jantar-entrevista das personagens ganha mais contornos conforme o vinho vai subindo à cabeça, a carne deliciosa preparada por Glória vai sendo consumida (ela hoje ganha a vida preparando banquetes para diplomatas) e a atração entre as duas torna-se real, surgindo de como ambas se vêem.

Clima lésbico
"As duas, Gloria e Carol, são como se fossem uma mesma pessoa ou como se uma se visse na outra seu ideal de mulher. Carol gostaria de ter as coisas que Gloria conquistou: uma carreira de escritora respeitada, reconhecimento, liberdade; e Glória, por sua vez, vê em Carol aquilo que não possui mais como a juventude, a fertilidade, as inúmeras possibilidades de uma vida toda pela frente. Elas se espelham e se admiram - e não existe maior afrodisíaco que a admiração", explica Rafael.

Ao ótimo desempenho de ambas se junta o de Gilda Nomacce, que faz uma funcionária do prédio e merecia mais intervenções na trama dado o seu grande talento. Bem ou mal, no entanto, Gata Velha Ainda Mia ficou no tamanho certo: o suficiente para refletir sobre a velhice, o passado, o que gostaríamos de ser e o que nos tornamos, e também para roermos as unhas com o clima sombrio que as falas e ações da escritora tornam arrepiante.

 

Para informações sobre endereços e horários de exibição, veja em nossa Agenda.


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