Um dos maiores destaques LGBT do Oscar 2022, sem dúvida, é Flee - A Fuga.
O longa dinamarquês conseguiu a proeza de ser o primeiro a disputar as categorias de documentário e animação. De quebra, ainda concorre a melhor filme internacional.
A história, claro, é baseada em fatos. Dirigido por Jonas Poher Rasmussen, o filme fala de um afegão gay que fugiu de seu país para não morrer.
O cineasta, hoje com 40 anos, conheceu Amin (nome fictício) quando eles tinham, respectivamente, 15 e 16 anos.
"Sempre tive curiosidade em saber como é que ele chegou até ali, mas ele nunca queria falar sobre isso e eu, claro, o respeitava", contou Rasmussem ao site Indiewire.
Na vizinhança, corriam boatos. Um deles era que Amin chegara ao país escandinavo a pé. Outro, que ele havia visto a família toda morrer.
A amizade manteve-se até hoje. Com ajuda dos atores Riz Ahmed e Nicolaj Coster-Waldau, Rasmussem conseguiu financiamento para a produção.
"Há 15 anos perguntei a ele se faria um documentário com a sua história. Disse-me que não. Mas me disse também que sabia que eventualmente teria de o fazer — e quando o momento ideal chegasse, que me avisaria", explicou.
A ideia de contar seu drama por meio de uma animação ajudou Amin a concordar em falar sobre seu passado, pois, assim, ele pôde se manter anônimo.
"Toca em experiências traumáticas que não são fáceis de abordar, por isso ele não queria fazer um filme normal", afirmou o diretor. "Depois teria que cruzar com pessoas na rua que conheciam os seus mais íntimos traumas e segredos."
Aos 11 anos, Amin e a família saíram do Afeganistão para a Rússia, único país que emitia vistos para afegãos.
"Era um lugar estranho, foi logo após a queda do muro [de Berlim] e havia muita corrupção. A polícia russa os pressionava e pedia dinheiro, tiravam partido da sua situação."
Maltratados pela polícia e pela população, eles raramente saíam de casa.
Amin tinha famíliares na Suécia, que poderia ajudá-los. Eles tentaram várias vezes cruzar a fronteira, sem sucesso. Aos 16 anos, o já adolescente resolveu ir para a Dinamarca sozinho, com ajuda de traficantes.
Parte da família posteriormente foi para os Estados Unidos. O pai, que ainda estava em Cabul, foi capturado por talibãs e nunca mais foi visto.
A mãe, que ficou na Rússia, ele conseguiu rever algum tempo antes da morte dela.
Hoje, Amin ainda vive na Dinamarca, tem um marido. Sua família muçulmana aceitou sua homossexualidade.