Anilhas, leg press, supino reto, peck deck... política e postura ativista LGBT! Ao que tudo indica, para alguns gays, uma academia é feita disso no novo normal nascido na pandemia da covid-19. Tanto é que muitos optaram por cancelar a matrícula na rede Smart Fit após suspeita de envolvimento de seu dono em grupos de desinformação pró-Bolsonaro.
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Em 27 de maio, o proprietário da rede de academias Smart Fit, Edgar Corona, foi alvo de mandado de busca e apreensão dentro de inquérito que apura disseminação de fake news e ataques ao Supremo Tribunal Federal.
O empresário é suspeito de ser um dos financiadores do esquema e também teve os sigilos bancário e fiscal suspensos.
Imediatamente, LGBT fizeram movimentação nas redes sociais para que houvesse cancelamento de matrículas na Smart Fit. O mote era não dar dinheiro para empresário que possivelmente apoia suposto esquema criminoso a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O rompimento, de acordo com o contrato, só pode ser feito presencialmente. Com a reabertura nos últimos dias das unidades em vários lugares do Brasil, foi o momento de muitas pessoas irem da promessa à ação.
Foi o que viram os mais de 40 mil seguidores no Instagram do advogado, professor e ativista de direitos humanos Renan Quinalha.
A legenda de foto dele em fila na porta de uma das unidades da Smart Fit em São Paulo mostrou sua disposição. "#coisadeviado é ir mascarado e enfrentar a fila para cancelar a matrícula na bolsonarista Smart Fit", escreveu.
E não foi algo tranquilo. "Eles querem cobrar a mensalidade deste mês sendo que reabriram há dois dias e não permitiram o cancelamento a distância durante a pandemia", explicou Quinalha à nossa reportagem.
"Além disso, querem cobrar cláusula penal de cancelamento, o que é inaceitável por haver discussão da pandemia como um caso fortuito ou de força maior, o que me impede de cumprir a obrigação que assumi neste contrato."
Quinalha escreveu à mão no termo de rescisão que discorda das cobranças, o que ele recomenda a quem for anular o contrato.
O artista Guto Ferraz, também da capital paulista, é outro que não deseja mais integrar a lista de alunos da Smart Fit. No dia da entrevista, ele tinha vindo da tentativa de cancelar o contrato.
"Disseram que eu precisaria ir à unidade em que fiz a matrícula. Farei isso amanhã de manhã."
O fim de cerca de cinco anos como aluno da rede será sinônimo de transtorno, mas ele mostra que a postura política é mais forte.
"É um prejuízo para nós porque a Smart Fit é uma ótima academia, podemos malhar em qualquer lugar do Brasil. Mas é um sacrifício e ato político em forma de boicote perante a situação que estamos vendo."
No DF, o pedagogo Cleyton Feitosa fez o cancelamento nas primeiras horas de reabertura da academia, a qual frequentou por dois anos.
Sobre o fato de não haver nada comprovado contra o dono da rede, apenas suspeitas, Feitosa responde com a possibilidade de ser verdade o que está no inquérito.
"Houve apoio do empresário a Bolsonaro nas eleições de 2018. A probabilidade de isso [as acusações] ser verídico é alta."
Miguel (nome ficticio) encerrou contrato de quatro meses com a academia e pagou as taxas cobradas. "Preferi não questionar e não me estressar com isso."
Na sua lista de empresas boicotadas está também a cadeia de lojas Havan, cujo proprietário é bolsonarista.
A respeito do futuro da malhação, há planos. "Provavelmente vou esperar estabilizar a epidemia, que também foi um motivo para cancelar. Vou para uma academia de bairro. que não é tão moderna, mas será maneira de apoiar os pequenos empresários."