Carnaval mostra mais uma vez por que Floripa é o paraíso gay

Publicado em 09/03/2014

Corpos malhados, praias, 60 festas, gays do Brasil e várias partes do mundo: Floripa próximo do sonho do que é um céu arco-íris

Corpos masculinos perfeitos, festas diurnas e noturnas incríveis, clima de respeito por parte dos héteros (mesmo eles sendo minoria), duas praias bonitas e apenas um par de objetivos: diversão e pegação. Sim, existe o céu gay! E o que fazer para ir até ele? Esqueça os requisitos de muitas religiões para entrar no paraíso. Nesse caso é só comprar passagem para Floripa! 

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Os dias de carnaval na capital catarinense em 2014 só reafirmaram porque a temporada na cidade tem chamado, há anos, atenção não só de gays brasileiros como também de estrangeiros. Por alguns dias, é possível chegar o mais próximo possível do que boa parte dos homossexuais deseja no seu dia-a-dia: afastar-se da rotina e viver de forma hedonista. 

"Gente bonita, sol, praia, música... Ah, isso sim é Ilha da Magia", resumiu o advogado Micael Zacarin, 31 anos, morador de Porto Alegre, em releitura gay do codinome da cidade.

Zacarin fala junto ao namorado de seis meses, o estudante Rafael Duarte Dias, de 20 anos, enquanto curte o som e bebidas no epicentro desse terreno idílico: a Praia Mole

No céu católico, é esperado que um senhor bondoso de barba branca, uma chave grande nas mãos e com uns quilos a mais quem dê as boas-vindas aos que chegam. Na Mole, digamos que o serviços de hostess é diferente: o som é eletrônico, as barrigas (de forma até opressora) são majoritariamente gomadas, as roupas são mínimas e a temperatura dos corpos estão bem acima daquelas da água e da areia. 

"Isso aqui é a Neverland gay. Não há dúvida!", constata o professor João Costa, de Porto Alegre, seguido, automaticamente, pela concordância de três amigos. Todos curtindo a Mole e sua movimentação masculina (mulheres beiram a raridade). 

Corpos e merecimento
Como num céu um pouco diverso, também há grupos de ursos (homens gordos e peludos). E os desgarrados do super bloco dos Unidos do Halteres (e substâncias engrandecedoras) e mais afeitos à Praia da Galheta, vizinha à Mole e dedicada ao nudismo e à calmaria. 

Se for comparar com uma vida de sacrifício exigida nas letras pequenas do cristianismo para se merecer o céu, olhe, você pode até sair ganhando com este paraíso arco-íris! A preparação para merecê-lo é menor! Um ano mais precisamente, diz o administrador Bruno Portela, 24 anos, de Belo Horizonte, que afirmou ter pego pesado na academia quase 12 meses antes do carnaval já com o verão em Floripa na cabeça. 

Compensou? Bom, digamos que só conseguimos falar com ele depois de esperar o fim do beijo nada novelesco (foi intenso mesmo) no chileno Ignácio Azevedo, 21 anos, estudante, que veio a Floripa com quatro amigos, todos trazidos pela fama da cidade como destino gay. Se gostou? "Com certeza estarei aqui ano que vem. E trarei mais amigos. Aqui é maravilhoso!". Torre de Babel só é desagregradora quando as línguas se resumem a apenas falar!

Intensidade
No céu cristão, não há noite, ensinam as figuras bonitinhas usadas na Primeira Comunhão. Curtindo Floripa, dá a impressão que os monges copistas usaram apenas uma metáfora aí. As noites existem, mas sim, é para continuar desperto! 

"Estou há três dias sem dormir", relata o arquiteto André Guimarães, 28 anos, de São Paulo e pela oitava vez no carnaval de Floripa. Ele curtindo o som com um amigo. O namorado, descansando na cadeira ao lado (sabe-se lá por quanto tempo!). 

O estado de alerta tem sua razão. Como contabilizado pelo Guia Gay Floripa, a cidade ofereceu mais de 60 festas gays durante a temporada. Festa noturnas, afters, sunsets... E festas noturnas, afters, sunsets... E som ligado alto nas pousadas e hostels, e Madonna nos sons dos carros... E private parties... E aditivos sintéticos (a versão gay do pão e vinho)! 

E esqueça o papo de "minoria" para os gays. Aqui o jogo é invertido. A quantidade de turistas gays é tão alta que gera a situação em que os héteros, eles sim, tornam-se o ponto fora da curva.

Nos restaurantes, homens se beijando, se acariciando, bem soltos. Nas padarias, corpos masculinos desnudos procurando energia para repor a que foi gasta na noite. Homens musculosos de mãos dadas por todos os lados da Lagoa da Conceição e da Barra da Lagoa (bairros vizinhos à Mole). Publicidade gay em outdoors. Cota para héteros pode ser objeto de algum projeto de lei destrambelhado em breve! A ser derrotado!

Sons destoantes
Como que em ato de anjos caídos, entretanto, há vozes discordantes. "Não acho bacana tão pouca diversidade aqui. Sempre mais do mesmo. Corpos padronizados! Não gosto disso! Eu não me preparei para vir. Vim de última hora! Seria legal mais diversidade", clama André Guimarães, com um corpo não longe do dito padrão.

Como que trincando um cristal, o professor João Costa também lança seu petardo. "Não dá para aceitar gente usando grife, mas só comendo miojo em casa." E arrisca: "Acho que gays gostam de estar com o corpo bonito, usar roupa de marca para compensar anos de repressão que tiveram em casa." Dentre grãos de areia, psicologia. E por que não?

Quem pode não concordar com a linha "boné John John, óculos Carrera e camiseta CK" ser fachada para pratos de miojo são os hotéis do Centro. Em conversas informais, o Guia Gay Floripa conseguiu confirmação de que era maciça a presença de hóspedes gays dentre os hotéis mais caros da região, como o Sofitel, Blue Tree e Majestic Palace. Os ônibus vazios e a quantidade de carros alugados nas saídas das festas também reforçavam o ideário do pink money.  

Questionado ou não, o desejo pelo paraíso não cessa. O ano de 2014 foi o primeiro do engenheiro de produção Rafael Gonçalves, 29 anos, de São Bernardo do Campo (SP), na temporada momesca e nada, nada sambística ou axezística em Floripa. Ele e mais 15 amigos, alguns na quinta vez na cidade, já nos últimos dias do carnaval tinham um consenso: "Vamos voltar!" Amém!


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