Uma das principais jogadoras da Seleção Brasileira de Futebol, Cristiane Rozeira mostra-se consciente da importância que a representatividade lésbica tem.
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Mãe do pequeno Bento, nascido em 26 de abril, junto à esposa, a advogada Ana Paula Garcia, a atleta compartilhou imagens nas redes sociais e destacou a influência positiva que isso acarreta.
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"É porque eu acho que tem muitas pessoas que se identificam com a gente. A gente sabe que existem muitas mulheres e muitas adolescentes que têm dificuldade de aceitação dos pais ou então que acham que 'Ah, não, eu nunca vou encontrar uma pessoa com quem eu vou conseguir ter uma família, porque talvez isso não seja possível'. E eu e a Ana a gente traz muito isso para as pessoas", afirmou Cristiane ao UOL.
"Recebemos muitas mensagens de pessoas dizendo 'Meu Deus, tem como ser feliz, sim. Tem como dar certo, tem como encontrar uma pessoa bacana, tem como eu ser mãe com outra mulher'."
"Mesmo a gente recebendo mensagens como 'Ai, mas cadê o pai?' ou 'Olha, é a cara do pai', a gente conseguiu atingir muitas pessoas e recebemos muito carinho, muito respeito, muitas mensagens positivas. Então eu acho que a gente acaba levando para as pessoas essa mensagem de elas acreditarem que podem encontrar uma pessoa para construir a vida, de acreditar que, sim, você pode ser mãe com outra mulher ou pode ser pai com outro homem", disse Cristiane, que se casou com Ana em agosto de 2020.
A esportista diz preferir ignorar os comentários homofóbicos e preferir guardar as mensagens de apoio, que são muito mais numerosas.
"Eu prefiro ficar com todas as mensagens positivas e bonitas que as pessoas mandam do que com meia dúzia de pessoas frustradas e infelizes que usam as mídias sociais para serem agressivas, preconceituosas e homofóbicas."
O casal pretende criar Bento para que esteja aberto à diversidade e ao respeito, além de força para que ele suporte o preconceito que possa vir por ser criado por duas mulheres.
"É isso que a gente quer passar para ele, toda educação possível, toda a generosidade possível — que eu acho que é isso que precisamos ter dentro do coração. E força, porque pode ser que ele tenha que conviver com esse tipo de comentário, com esse tipo de pessoa. Então conversamos muito sobre como a gente vai prepará-lo para esse mundão", afirmou.
"O amor faz a gente respeitar o próximo. A gente deveria começar a entender isso e passar isso aos nossos filhos, porque as crianças têm todo esse amor no coração e vão aprendendo o que você passa a elas."
"A partir do momento em que você passa a xingar duas mulheres juntas, a dizer que isso não é o correto da família tradicional brasileira, é isso que a criança vai entender. Eu acho que está na hora de a gente mudar um pouco esse tipo de pensamento e respeitar. É só o que a gente quer: respeito. Tomara que meu filho não tenha que escutar essas piadinhas que tem até hoje de 'Olha, mas você não tem pai' ou 'Mas e o seu pai?'."
"Eu acho que é um processo — que eu gostaria que não fosse longo — para você fazer essas pessoas entenderem que o que é bonito é amar, é o amor entre duas pessoas, independente de se é entre duas mulheres ou dois homens."
Gravidez
Sobre a gestação, a esportista e a esposa aproveitaram o mundo de paralisação parcial do futebol. Ana gestou o bebê a partir de óvulo de Cristiane.
"Nós não teríamos esse tempo em outro momento, porque era um processo em que eu teria que tomar medicação. Então o nosso médico teve que pegar toda a informação relacionada a dopping", explicou.
"E teve um período que a gente levou para conseguir liberação, de falar com o médico do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), falar com a ginecologista, falar com o médico da Seleção — para a gente conseguir fazer esse procedimento. E nesse momento eu não conseguiria parar de jogar para poder engravidar. Qual é o clube que faria um contrato comigo com 36, 37 anos? Seria muito mais difícil esse retorno ao futebol para mim."
Cristiane está com 35 anos, joga pelo Santos, e pela Seleção espera disputar a Olimpíada de Tóquio este ano.
Quando deixar o futebol, ela espera gestar o próximo bebê do casal.
"É minha última Olimpíada, espero que eu consiga ir. Não teria essa possibilidade de engravidar. Eu congelei os óvulos, porque o médico conversou comigo sobre a idade [ideal] para a mulher poder engravidar", diz.
"Eu falei: 'Amor, eu acho que na hora em que eu parar de jogar a gente consegue fazer o inverso, para eu poder ter a sensação de engravidar'."