Por Marcio Claesen
Uma mistura inusitada sobre as chamadas "terapias de conversão gay" e gênero de terror compõem o longa They/Them: O Acampamento, que estreou esta semana na plataforma de streaming Prime Video.
O longa-metragem de estreia do roteirista John Logan ousa em trazer um tema bastante sério para um tipo de filme em que se pretende apenas se divertir. E falha miseravelmente.
A história gira em torno de um acampamento comandado por Owen (Kevin Bacon), que recebe jovens para passar uma semana no local e, ali, se descobrirem e se aceitarem.
O discurso do proprietário do espaço parece inclusivo e receptivo, mas a prática mostrará outra coisa.
À medida que o filme avança, uma dúvida surge: afinal, a quem se destina They/Them? Certamente, a apreciadores de terror não é.
A despeito de começar com uma cena violenta, o longa passa a primeira metade voltado a mostrar os supostos conflitos dos hóspedes e o desenvolvimento das relações interpessoais.
O maior "susto" que o espectador terá nessa parte será descobrir que uma das jovens não é cisgênero, como dizia ser, mas transgênero.
São jorrados diálogos repletos de lugares-comuns e tão enfadonhos quanto a interpretação de praticamente todo o elenco - que inclui uma pessoa brasileira não-binária, Darwin Del Fabro.
A superficialidade é tamanha que é impossível se conectar com os dramas de cada um e torcer por quem quer que seja.
É bem verdade que as três indicações ao Oscar de Logan como roteirista (Gladiador, O Aviador e Hugo) não eram nenhum exemplo de excelência, mas o nível aqui é tão raso que chega-se a duvidar se, afinal, ele não está fazendo troça com a orientação sexual e identidade de gênero de seu "heróis".
Às inúmeras cenas com as caras sem nenhuma expressão da personagem protagonista não-binária Jordan (Theo Germaine) soma-se até número musical com cover de P!nk no pior estilo Glee e forçados envolvimentos românticos entre alguns deles.
Na segunda metade, o diretor deixa de querer agradar apenas a geração Z para quem o filme até então parece destinado, para agarrar os dois ou três fãs de horror que lutam contra o sono e ainda resistem em chegar até o final da produção.
Sem nenhuma vontade para criar suspense, Logan retorna à matança com a habilidade de um hétero andando de salto e fazendo "voguing". E dá-lhe sequências sem imaginação e uma correria de mortes para justificar o gênero antes que o filme acabe.
Por fim, They/Them: O Acampamento passa ao largo de se aprofundar em assunto complexo como a "cura gay" e jamais entusiasma quem quer apenas uma hora e meia de entretenimento envolto em sustos, gritos e facas afiadas.
Com ingredientes tão díspares nessa receita pouco sanguinolenta, o cineasta não consegue satisfazer nenhum paladar.
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