Editorial
"Todos nascemos nus. Todo o resto é drag." A frase mais que inspirada e inspiradora é da maior drag queen que o mundo já teve: RuPaul.
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Entretanto, tal como uma maquiagem mal feita, há alguns no Brasil que desejam enfiar na oração um adendo: "Desde que a gente permita"!
Tem sido comum algumas drag queens criticarem em redes sociais e até em reportagem o fato de o ator bissexual Reynaldo Gianecchini ter sido escolhido para o papel maior do musical Priscilla, a Rainha do Deserto, que será montado em São Paulo, em junho.
O rosário é relativamente longo: ele não é ativista, ele não é drag, ele não canta, mimimi, mimimi, mimimi. Desolador ver tais falas vindas de artistas!
Drag queen é resistência, é frase comum. Um dos grandes símbolos da cultura gay que é, essa arte realmente é cravada de histórias nas quais foi preciso ser forte.
Um exemplo é o fato de, como forma de não chamar atenção da polícia na época da ditadura militar no Brasil, gays reunidos em apartamentos aplaudiam com estalos de dedos performances de transformistas. Palmas iriam ouriçar vizinhos.
Pense se uma arte de resistência, que enfrenta paradigmas pode ornar com a defesa de que uma pessoa teria ou não "autorização" para performá-la! Demaquilante nos olhos do outro é refresco?
Arte que teria começado por conta da opressão: homens vestidos de mulheres, seja na Grécia Antiga seja em peças de William Shakespeare, por elas não terem permissão de subir ao palco.
Que nenhuma pessoa tenha de apresentar cinco vias carimbadas de permissão para ser artista, para viver a arte drag! Arte é livre! Necessário repetir: a arte é livre!
E tem mais! Como falar de representatividade em uma arte que é justamente a simulação de outro? Um homem performando uma mulher!
A coerência de quem critica Gianecchini nesse aspecto levaria drag queens a concordar com uma ala de feministas que veem essa arte como ridicularização da mulher e ocupação de espaço delas. Estranho o argumento? Pois é, ele não é raro.
Sabe o black face? Não é difícil ver quem compare a arte drag a essa prática, só que em relação ao gênero. Vão continuar a falar de representatividade?
Veja se lhe desce, leitor: "Gianecchini não pode fazer papel de drag queen por não ser uma. Mas eu, homem, posso fazer o papel de forma caricatural de uma mulher".
Cuspidas para cima também estragam a maquiagem, bitches!
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