Por Marcio Claesen
Em meio a tantas mulheres - a maioria, héteros -, no domínio da música pop, homens gays que conseguem repercussão neste universo são raros.
Curta o Guia Gay Floripa no Facebook
Talento é o que não falta. Um exemplo é Bright Light Bright Light, nome artístico do galês Rod Thomas, que vive em Nova York e divulgou, há pouco tempo, um dos clipes mais gays do ano, I Used to Be Cool.
Com nome baseado em uma fala do cult filme de terror dos anos 1980 Gremlins, o artista, que tem 10 anos de carreira, está prestes a lançar mais um álbum e conversou com exclusividade com nossa reportagem.
Na entrevista, o cantor de 37 anos fala de Elton John e Cher [ele abriu turnês de ambos em 2014/2015 e 2019, respectivamente], sobre direitos LGBT, Donald Trump, Madonna, Pabllo Vittar, Linn da Quebrada e Jair Bolsonaro, dentre outros temas.
Você é uma pessoa muito criativa, certo? Como você está lidando com isso em meio à quarentena?
Sim, eu acho que sou muito criativo! Estou achando a quarentena bastante difícil em alguns aspectos e OK em outros. Em termos de escrever letras, eu não tenho nenhuma inspiração, então, acho isso difícil.
Mas tive tempo sem viajar para trabalhar em alguns remixes e ideias musicais não relacionadas ao meu trabalho artístico, e isso foi o suficiente para me manter ocupado. Mas sinto falta de ver pessoas. Eu moro na cidade de Nova York, que, você sabe, é uma cidade muito movimentada, onde você vê pessoas todos os dias. Estar aqui e não ter vida social é uma situação muito estranha!
Seu novo vídeo começa com referência a Madonna e em seu próximo álbum, há música com Niki Harris e Donna De Lory, cantoras que foram backing vocals dela por muito tempo. O que Madonna significa para você? [N.R.: A entrevista foi feita antes da polêmica de Madonna com a cloroquina].
Como muitos gays, eu absolutamente adoro Madonna! Eu amo a música dela desde sempre. Ela está entre os meus cinco melhores artistas de todos os tempos, com certeza. Mesmo além de sua música, a maneira como ela falou sobre poder feminino, conscientização sobre a aids, sexo seguro, abuso de poder ... é uma mulher incrível que nunca teve medo de usar sua voz e para as pessoas LGBTQ + é tão importante. Suas composições e shows são sempre incríveis, então trabalhar com Niki e Donna - que eu vi várias vezes em cenas de shows ao vivo - foi um sonho realizado. Eles são adoráveis e muito talentosas.
O que podemos esperar do seu próximo álbum?
Ele sai em 18 de setembro! É uma carta de amor ao mundo LGBTQ+ e é muito inspirado por lendas do segmento tais como Sylvester, Bessie Smith, Bronski Beat, Erasure, Scissor Sisters, Pet Shop Boys...
É um disco de pista de dança que analisa a história LGBTQ+ e pensa no nosso presente e qual será o nosso futuro. Tem lista realmente longa de convidados especiais. É grande orgulho tê-los no álbum, incluindo Jake Shears. Sei que Scissor Sisters tem muitos fãs no Brasil!
Você tem trajetória muito rica de parcerias e conexões com ícones da música. Elton John, por exemplo, que é inspiração para todos nós. Você ainda mantém contato com ele? Quais são as melhores coisas que você aprendeu nessa soma?
Nós mantemos, sim! Conversamos na maioria das vezes por e-mail ou algo assim. Ele é uma das minhas pessoas favoritas no mundo. Um homem tão gentil e engraçado, e ele realmente se importa tanto com música.
Aprendi com ele que é possível trabalhar duro e ainda aproveitar cada minuto, que não há problema em cometer erros e compensá-los, que você pode viver uma vida longa e ocupada e ainda encontrar alegria na música. Ele é muito generoso com seu tempo e seu conhecimento em música. Estou tão surpreso em chamá-lo de amigo.
E Cher, como foi o contato com ela?
Você sabe, quando você faz essas turnês, você não tem muito tempo com a grande estrela! Nós conhecemos Cher e ela foi doce e muito gentil. Foi incrível fazer parte do show, e a equipe inteira foi incrível. Eles fazem você se sentir parte de uma família enquanto você está na estrada com eles. Tocar para o público da Cher foi realmente especial - que oportunidade incrível!
Você teve suas referências quando começou, mas hoje você também é referência para quem está começando na música. Você pensa sobre isso?
Parece meio estranho imaginar que eu possa ser referência para alguém! Mas isso me deixa orgulhoso. Se as pessoas me ouvem e acham as músicas inspiradoras, sinto que fiz um bom trabalho.
Como é ser um artista gay atualmente, com tantos direitos conquistados e, ao mesmo tempo, ainda com tantas coisas pelas quais lutar?
Ainda precisamos lutar totalmente. Como você vê, as pessoas no poder em todo o mundo estão tentando remover os direitos que conquistamos, por isso é mais importante do que nunca ser pró-ativo, ouvir, ler as notícias, fazer tudo o que puder para lutar pelos direitos humanos, especialmente para a comunidade LGBTQ+. As mulheres transexuais negras são assassinadas com mais freqüência do que qualquer parte da sociedade, e é muito importante lutar por seus direitos.
Os gays, em todas as partes do mundo, adoram divas pop (em geral, mulheres cis e heterossexuais - e elas são ótimas, sem dúvida). No entanto, você não acha que artistas gays (muitos deles incríveis) têm pouco espaço na comunidade? Você sabe por quê?
Eu sei o que você quer dizer. Eu realmente gostaria que os gays dessem aos artistas LGBTQ+ o status de "ícone" que eles dão às mulheres heterossexuais no pop. Eu amo essas mulheres, não me entenda mal, mas parece haver uma adoração instantânea delas, e os artistas LGBTQ + reais precisam ter um grande sucesso para que alguém se importe.
Eu gostaria que a cultura LGBTQ+ apoiasse seu próprio talento, embora muitas dessas estrelas pop heterossexuais funcionem como aliadas incríveis. Seria maravilhoso ver o mesmo apoio de homens gays para elevar as estrelas LGBTQ+ ao mesmo nível que as cantoras cis hétero.
As eleições norte-americanas estão próximas. Você pensa sobre isso? Acha que o candidato democrata Joe Biden possa ganhar?
Estou com muito medo disso. Eu realmente acho que novembro será um show de horror. A administração de [Donald] Trump fará tudo o que puder para ganhar, ou se perder, para ficar. É tão assustador aqui. Eles são pessoas horríveis e cruéis.
Você conhece alguma coisa sobre o Brasil? Você já esteve aqui? Você já ouviu falar sobre Anitta e Pabllo Vittar?
Eu sei um pouco sobre o Brasil, mas sinceramente não é o suficiente! Eu nunca estive! Se você é um artista sem gravadora, como eu, é muito difícil encontrar dinheiro para viajar tão longe ... Mas espero realmente ir um dia!
Eu conheço Pabllo Vittar, sim, e eu realmente amo Linn da Quebrada, você conhece? Eu também amava CSS em meados dos anos 2000, eles eram uma das minhas bandas favoritas de rock/electro!
Às vezes, a política brasileira é discutida no mundo, principalmente depois de 2018, com a eleição de um presidente homofóbico, Jair Bolsonaro. Você já ouviu falar sobre ele? O que você acha?
Eu sinto muito medo por todos vocês. Já ouvi muitas coisas sobre ele e tento me manter informado. Tenho alguns amigos no Brasil e vejo postagens sobre coisas que ele fez e gostaria que houvesse menos ódio neste mundo.
Não entendo por que pessoas como ele, ou Trump, precisam tentar tornar a vida de outras pessoas tão difícil, sem motivo. Eu vi que ele testou positivo para covid-19 de novo, recentemente também ... talvez a Mãe Natureza tenha dado um basta!!
Qual mensagem para seus fãs no Brasil?
Eu amo vocês! E muito obrigado por me ouvir, mesmo que eu ainda não tenha podido visitá-los! Um dia prometo que irei e mal posso esperar! E se tem cantores ou artistas brasileiros que você ama e acha que eu vou amar, me envie uma mensagem no Instagram ou no Twitter e me avise! Adoro aprender novas músicas e novos talentos de todo o mundo. E ... use máscara e fiquem seguros!!
