Orgulho arco-íris, o historiador e geógrafo Raphael Knabben tem muito. Fotos dele com a bandeira LGBT são grande parte das imagens em suas redes sociais. Cliques feitos em diversos pontos da cidade a qual ele quer cuidar por meio de cargo de vereador na Câmara Municipal de Floripa caso vença as eleições no domingo 15.
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Estar lá, pelo Psol, é, conforme Raphael falou na entrevista abaixo, fazer com que LGBT não precisem depender da boa vontade de quem ocupa as vagas no Poder Legislativo e não sabe como é viver sob o preconceito que atinge o segmento arco-íris.
Em que acha que seu mandato pode contribuir para a cidadania arco-íris em Floripa?
Acredito que as pessoas LGBT devam estar em todos os espaços, incluindo os espaços de poder como são os cargos eletivos.
Vemos em Florianópolis uma subrrepresentação na Câmara Municipal. Por conta disto, acabamos dependendo da boa vontade de quem lá está para aprovar as políticas públicas para a nossa população, o que não vem acontecendo.
Minha candidatura se propõe a não medir esforços para aprovação de emendas para colocar em prática o Plano Municipal de Políticas Públicas para LGBT, trazendo discussões para a Câmara que geralmente ficam de lado.
Temos que colocar as necessidades das pessoas LGBT como centrais no governo, pois temos situação constante de violência e discriminação contra nossa comunidade em Florianópolis. Apesar de existir marketing de que a cidade é "gay friendly", mas não é o que vemos na prática.
Quem votar em você vai ajudar a eleger pessoas do Psol. Qual o compromisso do partido com a pauta LGBT?
Eu me sinto bem à vontade em estar dentro do Psol, tanto por conta do estatuto e programa, como pelas pessoas que constroem o partido diariamente.
Acredito que a política é feita de forma partidária, sendo que nossos compromissos com a pauta LGBT são compromissos de chapa. Filiei-me ao partido em 2017, não tendo qualquer filiação partidária anterior.
Temos um núcleo LGBT dentro do partido atuante e que colocou as demandas de classe em plenárias com os candidatos e candidatas à vereança.
O Psol tem dentro do seu programa aprovado em convenção nacional que as pautas LGBT são compromisso partidário.
Defendemos a livre expressão sexual e exercício do direito à identidade de gênero e orientação sexual, por uma sociedade que não nos discrimine e nem violente.
Hoje às pessoas LGBT são vítimas de várias violências, inclusive por parte do Estado brasileiro, por meio de repressão policial, ausência de estatísticas sobre nossa população e a omissão do Legislativo em tratar a homofobia e lei de identidade de gênero, por exemplo.
Nossas vitórias estão ocorrendo no setor Judiciário através de muita luta, por isso a necessidade de nos articularmos para ocupar cargos nos poderes Legislativo e Executivo.
Fora da questão LGBT, quais suas três principais propostas à população de Floripa?
Mudança da política ambiental, saneamento ambiental e regularização fundiária.
Hoje a regularização acontece quando a iniciativa parte do cidadão que procura a prefeitura. Temos que inverter essa lógica e colocar a prefeitura como agente ativo do processo, pois isso faz com que seja possível fornecer saneamento básico para essas moradias.
Temos um déficit habitacional enorme em Florianópolis. Devemos garantir o direito social da moradia, além de melhorar as condições do meio ambiente, que geram impacto na saúde.
Farei defesa dos restaurantes populares na cidade, pois somos a única capital que não possui esse serviço.
A pandemia do coronavírus destroçou a renda e o emprego da classe trabalhadora brasileira, sendo que em Florianópolis não seria diferente.
Temos uma grande quantidade de terras que estão ociosas e não são de mata nativa que podem ser utilizadas para construção de moradias, plantações, centros educacionais preparatórios para ENEM e profissionalizantes, entre outras iniciativas que a prefeitura pode realizar para garantir desenvolvimento para Florianópolis.
Você é geógrafo e historiador. Como você vê a importância de uma formação sólida para poder atuar na fiscalização da gestão da cidade?
Acredito ser fundamental que o parlamentar tenha uma formação consolidada para atuar de maneira mais técnica e produtiva.
A população está cansada de ver pessoas que estão em situação de poder que não possuem capacidade para exercer o cargo que estão. Prova disso são vários ministérios do Governo Federal, secretarias estaduais e municipais que estão sendo colocadas na mão de apadrinhados políticos que nem sequer possuem formação técnica na área envolvida.
A geografia é a ciência que analisa a produção do espaço como um todo. É necessário conhecer inicialmente o espaço na sua forma mais básica, a área. Saber quais são os bairros, uso do solo, onde estão os cursos d’água, ter uma caracterização do quadro físico e de como a população se distribui sobre esse espaço.
Mas todo espaço é produzido pela sociedade que o habita. Nesse sentido, é a partir daí onde vamos analisar e envolver toda a população que produz o espaço e onde os gestores públicos irão traçar as políticas públicas, pautadas no desenvolvimento econômico e social respeitando o meio ambiente, combatendo injustiças e desigualdades sociais.
Enquanto historiador, vejo a importância de analisar o passado e fazer o devido resgate histórico para entender que as desigualdades sociais que vivenciamos hoje não foram produzidas na semana passada, mas vem sendo construídas desde o período colonial.
De forma geral, como vê a aceitação do ideário de esquerda em Floripa? Como tem agido para angariar mais pessoas sintonizadas com essa agenda?
É bastante complicado viver no Estado que mais votou no atual presidente nas eleições de 2018.
Vejo que a resistência é construída a partir das capitais e das grandes cidades, onde ecoam os ares de renovação e contra o conservadorismo. As recentes eleições nos Estados Unidos também mostraram isso pelos mapas eleitorais dos Estados.
Psol significa Partido Socialismo e Liberdade, pois acreditamos que a perspectiva socialista para os trabalhadores só pode ser atingida se tivermos liberdade para exercício da individualidade.
Neste sentido, o ideário de esquerda vem crescendo em Florianópolis, principalmente após a construção da Frente Ampla Democrática, com vários partidos políticos do campo progressista envolvidos na formação de uma alternativa de esquerda para o município.
Nossa atuação precisa ser constante com movimentos sociais, com o povo, com o movimento sindical e trabalhadores.
A rejeição a Bolsonaro em Florianópolis já é de 47%. Temos claro que somos os únicos que confrontam este governo, se colocando enquanto oposição, enquanto outros candidatos estão em partidos que votam sistematicamente junto ao presidente no Congresso Nacional.
AVISO: Esta entrevista faz parte de projeto do Guia Gay Floripa de entrevistar candidaturas LGBT à Câmara Municipal da cidade.
Todas as candidaturas recebem três perguntas iguais e duas específicas, que podem coincidir ou não, a depender dos partidos e dos perfis das pessoas pleiteantes.