Mariana Franco, de 33 anos, é trans, mora em Floripa há quatro anos, estuda Serviço Social na UFSC. E quer acrescentar a sua biografia ser a primeira vereadora trans de Santa Catarina.
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A base de sua candidatura pelo PCdoB é atenção a LGBT, animais, idosos e mulheres. Atenta ao passado do comunismo no mundo e orgulhosa pelo que o partido já fez por LGBT no Estado, ela agora quer fazer um futuro mais inclusivo.
Como acha que o seu mandato pode contribuir para a cidadania arco-íris?
A participação de uma candidatura trans nas eleições é de um significado tão grande e de uma importância muito relevante. Penso em mandato colaborativo e com muita comunicação com as pessoas LGBTI+ de Florianópolis, a busca de políticas sociais e a defesa das políticas já existentes.
Precisamos pensar em uma cidade acessível para todas pessoas e pensar cidadania é pensar a busca da felicidade plena, o direito à dignidade e vida e o direito de você querer ser e amar quem quiser com segurança e equidade.
Todas as conquistas da população LGBTI+ são através do Judiciário, precisamos do Legislativo a nosso favor.
Caso eleita, serei a primeira pessoa trans de Santa Catarina a ocupar o cargo de vereança. As pessoas que conhecem a realidade de vida de pessoas trans no Brasil podem compreender o quanto isso é significativo.
Fora da questão LGBT, quais suas três principais propostas à população de Florianópolis?
Defendo o parto humanizado e defendo políticas para pessoas surdas. Pensar em assistência a saúde para pessoas surdas é propor intérprete de libras para gestantes surdas e surdos no caso de homens trans.
Defendo também ações para a proteção animal e também para os protetores de animais, pensar em ações para diminuir o preço de ração, uma farmácia veterinária gratuita para acesso da população. E pedir auxílio do Executivo para quem dedica a vida cuidando dos nossos animais abandonados.
E tambem na proteção e saúde do idoso, na isenção de pagamento de estacionamento para quem realiza tratamentos médicos de longo prazo.
Como responde às pontuações de graves erros de governos comunistas cometidos em diferentes partes do mundo?
O PCdoB defende uma pauta progressista, que visa a inclusão das populações LGBTI+, negros, mulheres e pessoas das periferias de forma plena nos espaços das decisões para lutar de forma plena contra o preconceito e para que suas necessidades sejam atendidas pelo poder público.
Claro que devemos reconhecer os erros do passado, mas o foco deve ser as ações do presente e o seus impactos no futuro para que possamos ter uma Floripa para todos e todas.
A maioria das pessoas falam sobre o comunismo sem compreender o que é, e fazem comparações do passado com a atualidade.
Os graves erros do passado tanto do comunismo assim como do capitalismo devem refletir nas ações políticas atuais para não cometermos os mesmos erros. Desde o golpe militar no Brasil, que ocorreu com chancela dos Estados Unidos, existe esse fantasma do comunismo no Brasil.
O fantasma do comunismo foi utilizado para fake news como do kit gay ou a mamadeira de piroca.
O pensamento dos demais países não é a realidade das propostas do partido aqui Brasil. Só analisar todas as ações para pessoas LGBTI+ que foram realizadas no Brasil.
Você tem como proposta incentivar empresas a contratar LGBT. Como seria ter de comprovar que uma pessoa é LGBT. Não tem receio de fraudes?
O Brasil está no topo do ranking de países mais violentos para pessoas LGBT, onde a expectativa de vida de pessoas transexuais é de 35 anos. É importante trabalhar para que essas pessoas estejam no mercado de trabalho e conquistem sua liberdade.
Muitos LGBTs são expulsos de casa e têm a prostituição como única fonte de renda.
O incentivo às empresas para contratação de pessoas LGBTs parte da necessidade de inserir essas pessoas no mercado de trabalho formal, para combater a discriminação e principalmente dar condições estruturais para os avanços da nossa luta.
Tenho receio de fraudes, mas tenho muito mais receio da violência e morte que estampa os jornais diariamente. As políticas de ação afirmativa (cotas) para negros, estudantes de escola pública e PCDs desenvolveram métodos de combater fraudes, como o controle social com participação de movimentos sociais.
Toda minha vida política é construída juntos de pessoas LGBT, assim como meu mandato também será. Os movimentos sociais terão ampla participação nessa construção e denúncias referente a fraudes.
Mas cabe aqui ressaltar que não podemos cair nas armadilhas patriarcais excludentes, que nos fazem exitar a inclusão construindo narrativas como essa.
Cito aqui o caso da jogadora de vôlei Tiffany. Muitas pessoas defenderam a exclusão baseados nas problemáticas da questão sem construir um caminho possível para a inclusão. Para a inclusão dos grupos de minoria, sempre existe um porém e problemáticas. Chega disso.
Quem votar em você vai ajudar a eleger pessoas do PCdoB. Qual o compromisso do partido com a pauta LGBT?
Todas as pessoas que estão concorrendo na chapa são pessoas comprometidas com a população LGBTI+.
O PCdoB em Santa Catarina em 2020 é o partido com maior número de pessoas trans no Estado, mas temos que ter participação política em todos os partidos.
Conseguimos grandes conquistas legislativas para a nossa população. Aprovamos a Lei de Combate à Homofobia (na época não era discutida a LGBTfobia) em Florianópolis, conquistamos o reconhecimento das famílias homoafetivas e a Lei do Nome Social, que foi vetada e realizada através de decreto pelo governador.
Foram grandes conquistas, mas precisamos de muito mais. Precisamos discutir as outras letras da sigla e de pessoas que acompanhem as mudanças diárias que ocorrem com as pessoas que compõem a sociedade.
Eu aprendi muito com as demais pessoas da chapa e suas bandeiras assim como elas também aprenderam comigo.
AVISO: Esta entrevista faz parte de projeto do Guia Gay Floripa de entrevistar candidaturas LGBT à Câmara Municipal da cidade.
Todas as candidaturas recebem três perguntas iguais e duas específicas, que podem coincidir ou não, a depender dos partidos e dos perfis das pessoas pleiteantes.
