Um dos maiores nomes da dança no Brasil, Ismael Ivo morreu, na madrugada desta sexta-feira 9, vítima de covid-19.
O artista, de 66 anos, estava internado há um mês no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
Paulistano da Zona Leste, Ismael se destacou como bailarino na cena cultural da cidade no início dos anos 1980.
Em 1983, foi bolsista em uma escola de dança de Nova York, passou pela Áustria no ano seguinte e fixou residência em Berlim, em 1985.
Excelência
Além de participar de grandes espetáculos na Europa, como bailarino e coreógrafo, Ismael foi o primeiro diretor estrangeiro do Teatro Naconal Alemão, de 1997 a 2000.
Entre 2005 e 2012, foi diretor do Festival Internacional de Dança da Bienal de Veneza, na Itália.
Ismael trabalhou com vários dos maiores nomes da dança no mundo, como o coreógrafo alemão Johann Kresnik, a coreógrafa e diretora alemã Pina Bausch e o bailarino e coreógrafo japonês Ushio Amagatsu.
Outros nomes com quem dividiu projetos: o coreógrafo norte-americano William Forsythe, a bailarina brasileira Marcia Haydée e a perfomer sérvia Marina Abramovic.
Em 2010, o artista recebeu a Ordem do Mérito Cultural do Brasil, concedida pela extinta pasta Ministério da Cultura, sob gestão de Juca Ferreira.
Em 2017, Ismael passou a se dividir entre a Alemanha e o Brasil ao se tornar o diretor artístico do prestigiado Balé Municipal da Cidade de São Paulo.
Polêmicas
Nos últimos anos, teve seu nome envolvido em polêmicas. Em 2019, a coluna de Mônica Bergamo da Folha de S.Paulo noticiou que Ismael iria acionar a Justiça contra a coreógrafa Morena Nascimento por tê-lo chamado de "capitão do mato".
Em rede social, Morena compartilhou post de Ismael em que ele entregava condecoração para o então ministro da Justiça Sérgio Moro.
Ela escreveu: "Ismael Ivo apoiando Sergio Moro?!?!?! Que equívoco! Que emaranhado! Que contradição, que jogo torto. Um homem negro, gay, bem-sucedido, batalhador de sua própria trajetória agora enterrando ele próprio?"
E completou: "Coisa esdrúxula! Parece miragem. Miragem de um capitão do mato à vista".
Depois, a coreógrafa apagou o post e disse "arrependida" dizendo que foi um ato seu de "ingenuidade e ignorâcia".
Já em agosto de 2020, dois meses após sofrer dois acidentes vasculares cerebrais (AVC) sem sequelas, integrantes do Balé da Cidade acusaram o artista de assédio moral.
Denúncia encaminhada à Secretaria de Cultura de São Paulo e divulgada pela revista Veja São Paulo dizia que Ismael usou frases como "calem a boca" e "vocês não eram nada [antes de mim]" aos funcionários.
Uma denúncia de importunação sexual de Ismael contra o produtor Gustavo Silva, que disse ter recebido abraços e carícias em reuniões, também foi citada na reportagem.
Em nota, o advogado do coreógrafo afirmou que as acusações eram "infundadas e não guardam qualquer relação com a realidade".