Morreu na noite desta terça-feira 26 o escritor Gilberto Braga. Assumidamente gay, o novelista inclui em diversas obras personagens LGBT.
O autor, de 75 anos, estava internado no Hospital Copa Star, no Rio de Janeiro.
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Segundo O Globo, Gilberto sofria de Mal de Alzheimer e, nos últimos dias, padecia de infecção sistêmica após perfuração no esôfago.
Ele deixa o marido, o decorador Edgar Moura Brasil, com quem era casado há 48 anos. Eles oficializaram a união em 2014.
O teledramaturgo é autor de alguns dos maiores clássicos da televisão brasileira, como Dancin' Days (1978) e Vale Tudo (1988).
Formado em Letras na PUC-RJ, Braga foi crítico de cinema e teatro em O Globo e estreou como autor na televisão em casos especiais exibidos em 1973.
A primeira novela foi Corrida do Ouro (1974), desenvolvida junto com Lauro César Muniz.
Em 1975, adaptou duas grandes obras da literatura brasileira, Senhora e Helena, mas foi com A Escrava Isaura, em 1976, baseada no romance de Bernardo Guimarães, que entrou para o time dos grandes - o folhetim foi, por décadas, o mais vendido do Brasil no exterior.
As grandes vilãs - uma de suas marcas registradas - começaram com Yolanda Pratini (Joana Fomm) em Dancin' Days, trama que lançou moda com as meias de lurex e outros acessórios e roupas usados pela protagonista, Sônia Braga.
Em Brilhante, Gilberto tentou falar sobre homossexualidade. Um de seus protagonistas, Inácio (Dennis Carvalho) era gay e mal compreendido pela mãe, a vilã Chica Newman (Fernanda Montenegro).
O ano era 1981 e a censura não permitia a discussão abertamente. Como parte da novela era mal compreendida por causa disso, Fernanda insistiu que Gilberto escrevesse. Ele colocou na boca da protagonista, Luiza (Vera Fischer) ao se dirigir a Chica com a frase: "os problemas sexuais do seu filho".
A música - como é explicado na série recém-lançada pelo Globoplay Orgulho Além da Tela - foi um dos recursos usados para que o público entendesse que o personagem era gay.
Em 1988, o tema já podia ser melhor desenvolvido e Braga criou o antológico casal Laís (Cristina Prochaska) e Cecília (Lala Deheinzelin) em Vale Tudo. Uma das duas morre para que o autor pudesse discutir a herança deixada por homossexuais que, durante muito tempo, era surrupiada pela família.
Vale Tudo é, para muitos estudiosos do tema, a melhor telenovela já escrita. Com elenco primoroso, a trama misturava crítica social, corrupção, alcoolismo e formação de caráter: até que ponto uma pessoa pode ir para conseguir o que quer? A vilã Odete Roitman, vivida por Beatriz Segall, foi um dos grandes destaques.
Gilberto teve ainda muitos outros êxitos, seja em minisséries (Anos Dourados, 1986; e Anos Rebeldes, 1992), ou em folhetins, Celebridade (2003) e Paraíso Tropical(2007).
A homossexualidade voltaria a ser abordada diversas vezes. Em Insensato Coração (2011) chamou atenção o então inédito número de personagens LGBT na mesma trama (sete).
A violência homofóbica foi um dos temas espinhosos retratatos ali pelo personagem Gilvan (Miguel Roncato).
Em 2015, em sua última novela, Babilônia, a audácia lhe custou caro. O escritor colocou um casal de lésbicas, feito por Fernanda Montenegro e Nathália Timberg, trocando um beijo no primeiro capítulo.
Duras e inúmeras críticas se replicaram dentre conservadores e religiosos e a novela foi boicotada.
A trama foi parcialmente reescrita, mas os espectadores não voltaram: amargou a pior audiência de um folhetim das nove até hoje.
Ele estava escrevendo uma nova novela para a TV Globo.