Morre Gilberto Braga, um dos pioneiros gays da TV brasileira

Autor incluiu personagens LGBT em várias obras e discutiu preconceito e aceitação

Publicado em 27/10/2021
Morre Gilberto Braga
Escritor deixa o marido, o decorador Edgar Moura Brasil, com quem era casado há 48 anos

Morreu na noite desta terça-feira 26 o escritor Gilberto Braga. Assumidamente gay, o novelista inclui em diversas obras personagens LGBT. 

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O autor, de 75 anos, estava internado no Hospital Copa Star, no Rio de Janeiro.

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Segundo O Globo, Gilberto sofria de Mal de Alzheimer e, nos últimos dias, padecia de infecção sistêmica após perfuração no esôfago.

Ele deixa o marido, o decorador Edgar Moura Brasil, com quem era casado há 48 anos. Eles oficializaram a união em 2014.

O teledramaturgo é autor de alguns dos maiores clássicos da televisão brasileira, como Dancin' Days (1978) e Vale Tudo (1988).

Formado em Letras na PUC-RJ, Braga foi crítico de cinema e teatro em O Globo e estreou como autor na televisão em casos especiais exibidos em 1973.

A primeira novela foi Corrida do Ouro (1974), desenvolvida junto com Lauro César Muniz.

Em 1975, adaptou duas grandes obras da literatura brasileira, Senhora e Helena, mas foi com A Escrava Isaura, em 1976, baseada no romance de Bernardo Guimarães, que entrou para o time dos grandes - o folhetim foi, por décadas, o mais vendido do Brasil no exterior.

As grandes vilãs - uma de suas marcas registradas - começaram com Yolanda Pratini (Joana Fomm) em Dancin' Days, trama que lançou moda com as meias de lurex e outros acessórios e roupas usados pela protagonista, Sônia Braga.

Em Brilhante, Gilberto tentou falar sobre homossexualidade. Um de seus protagonistas, Inácio (Dennis Carvalho) era gay e mal compreendido pela mãe, a vilã Chica Newman (Fernanda Montenegro).

O ano era 1981 e a censura não permitia a discussão abertamente. Como parte da novela era mal compreendida por causa disso, Fernanda insistiu que Gilberto escrevesse. Ele colocou na boca da protagonista, Luiza (Vera Fischer) ao se dirigir a Chica com a frase: "os problemas sexuais do seu filho".

A música - como é explicado na série recém-lançada pelo Globoplay Orgulho Além da Tela - foi um dos recursos usados para que o público entendesse que o personagem era gay.

Em 1988, o tema já podia ser melhor desenvolvido e Braga criou o antológico casal Laís (Cristina Prochaska) e Cecília (Lala Deheinzelin) em Vale Tudo. Uma das duas morre para que o autor pudesse discutir a herança deixada por homossexuais que, durante muito tempo, era surrupiada pela família.

Vale Tudo é, para muitos estudiosos do tema, a melhor telenovela já escrita. Com elenco primoroso, a trama misturava crítica social, corrupção, alcoolismo e formação de caráter: até que ponto uma pessoa pode ir para conseguir o que quer? A vilã Odete Roitman, vivida por Beatriz Segall, foi um dos grandes destaques.

Gilberto teve ainda muitos outros êxitos, seja em minisséries (Anos Dourados, 1986; e Anos Rebeldes, 1992), ou em folhetins, Celebridade (2003) e Paraíso Tropical(2007).

A homossexualidade voltaria a ser abordada diversas vezes. Em Insensato Coração (2011) chamou atenção o então inédito número de personagens LGBT na mesma trama (sete). 

A violência homofóbica foi um dos temas espinhosos retratatos ali pelo personagem Gilvan (Miguel Roncato).

Em 2015, em sua última novela, Babilônia, a audácia lhe custou caro. O escritor colocou um casal de lésbicas, feito por Fernanda Montenegro e Nathália Timberg, trocando um beijo no primeiro capítulo.

Duras e inúmeras críticas se replicaram dentre conservadores e religiosos e a novela foi boicotada.

A trama foi parcialmente reescrita, mas os espectadores não voltaram: amargou a pior audiência de um folhetim das nove até hoje.

Ele estava escrevendo uma nova novela para a TV Globo.


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