Morre a cabeleireira e escritora Ruddy Pinho, a 'maravilhosa'

Autora de dez livros, pioneira transexual deixa filho e neta

Publicado em 05/02/2021
Ruddy Pinho: cabeleireira transexual morre aos 76 anos
Ruddy comandou salão baladado na zona sul de Ipanema por mais de três décadas

Morreu, na madrugada desta sexta-feira 5, no Rio de Janeiro, a cabeleireira Ruddy Pinho. Ela estava com 76 anos.

Transexual, Ruddy foi pioneira em dar visibilidade ao segmento e conquistou fama com seus 57 anos de trabalho.

A "maravilhosa", como gostava de ser chamada, nasceu em Sabinópolis (MG), e deixa um filho, Ivan, policial de 43 anos, e a neta Maria Fernanda, de oito anos.

Ruddy começou a trabalhar com as tesouras aos 16 anos, na zona boêmia de Belo Horizonte, em meio a prostitutas. Mudou-se para o Rio em 1965 e ali fez sua carreira.

A cabeleireira trabalhou com alguns dos nomes mais importantes do País. "Fiz o cabelo de putas a primeiras-damas", disse, em entrevista ao O Globo, em 2014.

Marília Pêra, Odete Lara, Suzana Vieira, Beth Carvalho e Yoná Magalhães foram algumas das muitas estrelas que passaram por seu salão que funcionou por mais de três décadas em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro. Muitas se tornaram suas amigas.

O cabelo estilo "leoa" que transformou a cantora Simone em um símbolo sexual na década de 1980 foi criação sua.

A transição de gênero foi feita no fim dos anos 1980 e a primeira pessoa para quem contou foi o filho.

Ao jornal, ela contou como se tornou mãe e como abordou o tema com Ivan. "Um cabeleireiro perguntou se eu arrumaria uma madame para ficar com uma criança que tinha acabado de nascer", lembrou.

"Falei com a minha mãe e com meu então marido e eles aceitaram. Ivan veio para mim com seis dias e no sétimo entrou em coma com septicemia. As travestis trocavam as fraldas dele."

E continua: "Nunca menti sobre nada. Quando ele tinha 11 anos, falei: 'Meu filho, vou me transformar'. Ele disse: 'Faz o que quiser' e passou a me chamar de mãe."

"Mas aí, uma vez, eu já uma mulher, ele esqueceu e me chamou de pai dentro de um táxi. O motorista quase bateu", contou, ás gargalhadas.

Ruddy afirmou que demorou a transicionar porque tinha uma questão com a palavra travesti.

"Achava que era um termo ligado à prostituição e à marginalidade. Hoje tudo é mais confortável, porque as pessoas têm mais educação e esclarecimento. As crianças já nascem sabendo quais são as formas de sexualidade. Sou transgênero. É a palavra correta."

Ruddy trabalhou em três filmes, incluindo Navalha na Carne (1997), de Neville D'Almeida, com Vera Fischer. No teatro, sua última aparição foi em Divinas Divas, junto a nomes como Rogéria e Jane Di Castro.

Foi autora de dez livros. Em 1999, venceu concurso da Biblioteca Nacional na categoria contos com Ih... confidências Mineiras.

"O que mais gosto de fazer é escrever. Escrevo o tempo todo, até em guardanapo e papel higiênico, acredita? Tomo um drink, sim, e fumo unzinho." Ela chegou a se candidatar para a Academia Brasileira de Letras (ABL).

Em 2009, fez parte da composição do primeiro mandato do Conselho Estadual dos Direitos da População LGBTI+ do Rio de Janeiro.

Em nota, o Grupo Arco-Íris, uma das mais importantes entidade LGBT do País e que organiza a Parada LGBT do RIo de Janeiro, lamentou a morte de Ruddy.

"Ruddy é mais de nossas estrelas que deixa o nosso panterão na Terra para brilhar no céu junto a outras divas de mesma grandeza", diz trecho da nota.

 


Parceiros:Lisbon Gay Circuit Porto Gay Circuit
© Todos direitos reservados à Guiya Editora. Vedada a reprodução e/ou publicação parcial ou integral do conteúdo de qualquer área do site sem autorização.