Uma das piores entrevistas já dadas por uma celebridade no Brasil voltou a repercutir nas redes sociais.
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Publicada nas páginas amarelas (a seção mais nobre) da revista Veja em 1995, a reportagem sobre Victor Fasano parou nos assuntos mais comentados do Twitter neste sábado 11.
Na entrevista, Fasano, que então protagonizava a novela das sete Cara & Coroa da TV Globo, disseminou homofobia, machismo e elogiou propostas nazistas.
Logo no início, ele faz questão de ressaltar: "Você está querendo saber se sou homossexual? Pois eu lhe digo agora: não sou homossexual".
Tanto naquela época quanto hoje - 25 anos depois - Fasano foi e continua sendo alvo de comentários a respeito de uma suposta homossexualidade enrustida.
Questionado se já manteve relações com outros homens, o ator diz que não pode responder e faz alusão a práticas na infância.
"Você considera homossexual uma criança que manteve relação sexual com outra criança do mesmo sexo?", pergunta Fasano ao repórter Alfredo Ribeiro.
E continua: "Se as pessoas acham que eu sou homossexual ou bissexual, o problema é delas. O artista deve ter direito à privacidade. Michael Jackson foi crucificado na mídia por tentar seduzir um garoto, mas eu acho que a mãe do moleque é que induziu o filho a ter um caso com o cantor para ganhar dinheiro com isso."
Na sequência, o próprio ator traz o assunto nazismo à baila ao interseccionar os temas. "Minha sexualidade não é da conta de ninguém, como também não interessa a ninguém saber se eu sou nazista ou não."
Perguntado diretamente se ele é nazista, Fasano afirma: "Algumas ideias nazistas são excelentes. Por exemplo: quando desenvolvo uma espécie no meu criadouro de animais, procuro no acasalamento não misturar o sangue de um macho todo ferradinho com o de uma fêmea maravilhosa. O burro, o incompetente que foi comido pelo leão não vai passar o gene para frente. Nisso, Hitler tinha razão."
É o próprio ator, logo depois, quem traz de volta a homossexualidade à entrevista e neste ponto se mostra homofóbico.
"No mundo animal os machos brigam pelas fêmeas, e também entre os homens é muito mais fácil pessoas do mesmo sexo brigarem. É por isso que eu acho que é quase impossível uma união entre dois homens ou entre duas mulheres, e não estou falando da questão fisiológica. A mulher se amolda ao homem - e voce-versa - de uma maneira muito mais harmoniosa. Veja bem: não tenho nada contra dois homens que queiram ir para a cama."
E continua: "Não conheço nenhum casal homossexual feliz, mas vejo a felicidade entre os heterossexuais. Será que estou errado?"
O repórter responde: "Os grupos gays devem achar que você está errado sim".
Fasano rebate diminuindo a luta pelos direitos iguais. "Os homossexuais que pleiteiam isso ou aquilo viram gueto e, para mim, todo gueto é doença. Os gays não precisam lutar por nada, eles têm direito à homossexualidade."
Na sequência, Fasano se vangloria de sua forma física e poder de sedução. "Não é porque toda mulher do mundo quer ir para a cama comigo que eu tenho de degluti-las. Esse não é meu estilo, não sou um guloso."
O ator passa a relatar momentos em que foi atacado por uma sexagenária com um beijo de língua e das vezes em que as mulheres lhe jogaram calcinhas e sutiãs.
"Quando escuto o primeiro grito, corro, porque no quarto grito a situação já é incontrolável. Alguém desmaia, a histeria vira coletiva e eu passo a correr perigo de vida", diz. E complementa: "Por excesso de carinho as pessoas podem matar."
Por causa desta entrevista e de mais 20 notas assinadas pelo jornalista Tutty Vasquez, Fasano processou a revista alegando que a publicação induzia leitores a pensarem que ele odiava homossexuais, simpatizava com ideias nazistas e critivava a emissora em que trabalhava.
A Editora Abril, responsável pela Veja, foi condenada a pagar mil salários mínimos em 2000.
No mesmo ano, o Grupo Gay da Bahia (GGB) concedeu ao ator o diploma "100% heterossexual", entregue a personalidades que entraram na Justiça para provar que não eram homossexuais.
Fasano é paulistano, tem 61 anos e estreou na Globo em 1990 como protagonista em Barriga de Aluguel. Na emissora, fez nove novelas e duas minisséries. Entre 2010 e 2015 realizou trabalhos na RecordTV e desde então não foi mais visto na televisão.