Retirada de LGBT de base curricular veio de ação de bancada cristã

Houve reuniões não publicizadas e, de acordo com ativista, até chantagem para votos no Congresso Nacional

Publicado em 08/04/2017
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Bancada cristã em ato contra paradas LGBT com fotos de eventos que não eram marchas arco-íris

A retirada das expressões "orientação sexual" e "identidade de gênero" pelo Ministério da Educação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi articulada com detalhes e estrategicamente pela bancada cristã do Congresso Nacional. 

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De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, houve pelo menos dois encontros do grupo com o próprio ministro da Educação, Mendonça Filho. A agenda não teria sido divulgada para "não criar alarde". De acordo com os relatos, o ministro foi "sensível" à demanda cristã. 

A retirada foi feita de forma emergencial poucas horas antes da divulgação final da BNCC. O mesmo documento distribuído dois dias antes à imprensa ainda guardava as expressões. 

Ao jornal, o deputado Alan Rick (PRB-AC), da Igreja Batista, mostrou-se aliviado. "Defendo os princípios que a sociedade me cobra. Os pais não querem ver os filhos doutrinados. Eles dizem: 'Deputado, meus filhos vão para a escola para aprender matemática, português, não para ser ensinado que ele pode ter vários gêneros.' Falam que existem mais de 100 gêneros. Isso é uma loucura!"

Um dos mais importantes ativistas gays do Brasil em educação, o paraense Toni Reis, da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), disse à nossa reportagem que até chantagem houve nesse processo.

"A história se repete. Há uns anos, o kit contra homofobia foi fruto de barganha da bancada cristã junto a Dilma Rousseff (PT). Agora, os deputados usam a votação da reforma da previdência para pressionar o Poder Executivo."

O BNCC determina pouco mais da metade do conteúdo e competências que todos o alunado do Ensino Fundamental e Médio no País deve ter. O restante será de responsabilidade de Estados e municípios. A versão sem orientação sexual e identidade de gênero foi encaminhada para o Conselho Nacional de Educação, que poderá fazer mudanças. Entretanto, a palavra final é do Ministério da Educação. 

Reis é otimista. "Vamos voltar a conversar com o ministério e agir fortemente no conselho. Já temos mapeados conselheiros que são pela volta das expressões. Nossa estratégia é mostrar questões técnicas, de educação. E não achismos ou ideologias religiosas."


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