Presidente da mais famosa entidade LGBT dos Estados Unidos, Sarah Kate Ellis foi acusada em uma reportagem do The New York Times de gastar milhares de dólares com viagens e itens e serviços de luxo custeados pela organização.
A investigação se deteve no período de janeiro de 2022 a junho de 2023 e divulgou inúmeros recibos apresentados pela CEO da Glaad - Aliança contra a Difamação de Gays e Lésbicas.
Neste recorte de tempo, Ellis se hospedou em hotéis e resorts de luxo, viajou na primeira classe de aviões, teve carros importados para transportá-la e até fez reforma na sala de sua casa. Tudo às custas da entidade.
Ellis, de 52 anos, é casada com Kristen Ellis-Henderson, integrante da banda de rock Antigone Rising, e juntas têm dois filhos.
Ela trabalhava numa editora de revistas quando foi chamada para salvar as contas da Glaad, em 2014.
A entidade foi fundada em 1985 principalmente para defender a imagem de gays na mídia no auge da epidemia da aids.
Foi também a ONG a responsável por pressionar o canal ABC, em 1997, a exibir o "outing" da personagem homônima vivida por Ellen Degeneres na série Ellen.
Na década passada, a Glaad não conseguia mais pagar seus funcionários e Ellis não só recuperou a parte financeira, como trouxe diversos contratos e prestígio para a ONG.
A executiva passou a ser figurinha carimbada em tapetes vermelhos de premiações internacionais, ser capa de revista e se reunir com celebridades e milionários.
Sob o comando de Ellis, a receita da Glaad quintuplicou e em 2022 a entidade angariou US$ 19 milhões (R$ 109 milhões).
Advogados ouvidos pela reportagem apontam que o salário de Ellis não é condizente com quem está à frente de uma organização sem fins lucrativos.
Em 2022, a executiva renegociou seu contrato e seu pagamento anual aumentou em 5% passando para US$ 441 mil (R$ 2,5 milhões) e com aumentos automáticos de 5% ao ano até 2027.
Ela ainda recebeu bônus de US$ 150 mil (R$ 860 mil), mais dois pagamentos adicionais de US$ 300 mil (R$ 1,7 milhão), um outro bônus de 40% de seu salário e um acordo para receber mais um bônus, este de "despedida", no valor de US$ 225 mil (R$ 1,3 milhão) a ser pago em 2027.
A reportagem estima que na prática seu salário seja entre US$ 700 mil e US$ 1,3 milhão anuais (RS 4 milhões a R$ 7,5 milhôes).
Mesmo com recebimentos que mais parecem de executiva de empresas privadas, Ellis pediu recibo de dezenas de gastos, como a da reforma da sala, que custou cerca de US$ 20 mil (R$ 115 mil).
Este valor da reforma e alguns outros, diz a matéria, não foram declarados no imposto de renda.
Dentre outros luxos que foram pagos pela entidade está estadia no resort amado por homossexuais de classe alta nos Estados Unidos - Cape Cod - para ela, esposa e filhos.
A reportagem aponta que em 2023 a diretora financeira da Glaad, Emily Plauché, não estava satisfeita com estes gastos e alertou o presidente do conselho de administração que a soma conflitava com as políticas da entidade e não estavam sendo divulgadas ao imposto de renda nem ao público.
Alguns meses depois, Plauché foi desligada da entidade com um acordo sigiloso que a impede de falar sobre a Glaad.
De acordo com o The New York Times essa gastança toda da chefe da entidade também chama atenção pela política restritiva que a Glaad aplicava a outros funcionários. Foi citado um café que um funcionário pediu certa vez para receber estorno pela ONG e não só lhe foi negado como o homem foi advertido.
À reportagem, o porta-voz da entidade, Richard Ferraro, justificou que as melhorias na casa de Ellis e sua estadia no resort permitiram que ela avançasse na missão da Glaad.
Ele nega que Ellis tenha feito viagens luxuosas e diz que os dividendos da presidente foram negociados propositalmente um pouco mais altos que outras 10 entidades do ramo pagam para que ela continuasse no comando.
Em comunicado, Ellis chamou a matéria de "narrativa perigosa".
"Levo meu papel como administradora financeira da Glaad incrivelmente a sério e continuaremos atualizando nossos procedimentos para acompanhar o rápido crescimento da organização. Nosso trabalho nunca foi tão urgente, porque a comunidade LGBTQ está sob ataque crescente. Políticos, extremistas e até mesmo os principais meios de comunicação estão minando nossos esforços por igualdade e promovendo narrativas perigosas sobre nossa comunidade. Não vamos parar de lutar por aceitação e trabalhar o máximo que pudermos, todos os dias, para defender nossa comunidade", escreveu.