Por Welton Trindade - jornalista e ativista LGBT
Quem sai do tênis e entra no squash, ambos com base em uma raquete, revoluciona o primeiro? Quem deixa as esculturas e passa a se dedicar à música, ambas artes, implode e recompõe a primeira?
A resposta é clara, a resposta é não!
Por extensão temos: a não-binariedade, por ser fora do masculino sem conseguir ser contraponto real a ele, não possui capacidade significativa de mexer nas estruturas, conceitos e visões do ser homem.
Essa conversa tem como gancho o quanto a não-binariedade, cada vez mais em evidência, tem pretensamente mexido com os gêneros, de forma em geral, e com o feminino e o masculino, mais especificamente. Sobre o primeiro ponto, outro texto é necessário. Aqui vamos focar a masculinidade.
O que há é a verdade tangível de que o masculino só consegue sofrer solavancos porque quem nele está e pelo feminismo, forjado também pela oposição forte, não vã a ele.
Lida-se aqui com uma constatação-consequência simples como o nascer do sol. Gays, por reivindicarem e viverem de diversas formas o ser homem, são mais perigosos a uma masculinidade petrificada e limitante do que pessoas não-binárias.
Antes de continuar, que se faça um disclaimer pró-paz. Não se está aqui com qualquer tentativa de invalidar vivências ou identidades. Ser disruptivo ou reafirmante de papéis fixos de gênero não as anula. Tais adjetivos não matam substantivos. Ninguém precisa ser uma Madonna dos gêneros e do sexo para poder existir!
Voltemos... Pessoas não-binárias, por supuesto, não estão no barco da masculinidade. Estão em outro. E longe de tal forma que as ondas que produzem não fazem aquele balançar.
Gays lutam, e muito, para estar nesse barco. Tal presença é uma das maiores bandeiras do movimento homossexual masculino (opa).
Oferecem a rampa aos tubarões a gays, arremessam gays ao mar da feminilidade, da nulidade, tentam aprisioná-los no porão.
"Você não joga futebol. Você não é homem!" "Essa coca é fanta!" "Homem de verdade, gosta de mulher!" "Homem não usa brinco!". "Homem de rosa? Cor de mulher!". "Homem não chora!" "E aquele jeito lá rebolado é jeito de homem? Nunca!"
Gays dizem há muito e continuarão a dizer que sim, essa coca é coca mesmo. Que seja zero, que seja light, que seja cherry, mas coca, sim!
Gays, por vivência, existência, reivindicação, fazem a revolução de dizer que não há apenas uma forma de ser homem. Gritam em casa, na rua, na mídia, no trabalho para negritar a não existência de decálogo obrigatório a ser seguido para na masculinidade estar.
Como disse Santa Rita de Sampa: "Obrigado, não!"
A determinação secular de gays em botar a letra s ao final da palavra masculinidade é aula viva e pulsante de revolução! De glitter e/ou de barba e/ou de músculos e/ou de croped e/ou de camiseta de futebol e/ou de bunda que rebola (na rua e nos becos).
Gays, dividindo o timão do barco, demonstram que não sairão de forma alguma dele e que o rumo, as regras de antanho e até a decoração da embarcação não só podem como devem mudar.
Ser gay e não aceitar que se tire a sua forma de masculinidade é, isso sim, enfrentar o preconceito e o estereótipo. Ser agente da nulidade desse plural é abaixo assiná-los.
Sabe o pé que um gay bate ao dizer que ele não é menos homem por usar brinco ou levar no anel? Pois é, revolução pura!
Pode encomendar a camiseta: Seja revolucionário como um gay!