Após 185 anos, PM de SC tem 1ª policial trans de sua história

Sargento Priscila Diana conta que corporação a respeita e que bom relacionamento com colegas ajudou

Publicado em 30/04/2020
Priscila Diana é a primeira policial militar transexual de Santa Catarina
'Estude, se prepare, aprenda sobre seus direitos', aconselha policial. Foto: Arquivo pessoal

Na história, é preciso que precursores abram caminho e foi o que fez a Sargento Priscila Diana, a primeira policial militar transexual de Santa Catarina.

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Há 22 anos na corporção, Priscila conta que seu processo foi lento - o que pode ter ajudado a aceitação pelos colegas -, que sofreu mais preconceito da família do que no trabalho e que conhecer seus direitos e cercar-se de uma rede de apoio pode fazer a diferença.

"Meu processo de transição na polícia foi relativamente tranquilo, porque foi de forma gradativa. Minhas mudanças corporais se deram ao longo dos anos, o que acredito ter sido menos impactante. Como a maioria das trans, comecei minha hormonização por conta própria, o que é errado, e só depois passei por uma cirurgia de feminização facial. Após alguns anos que comecei a ter acompanhamento médico e psicológico adequados", explicou a sargento à Revista Híbrida.

Priscila diz que muitos dos colegas de trabalho levaram em conta o bom relacionamento construído durante todos os seus anos na PM. "Por incrível que pareça, o maior preconceito que passei foi fora da PM-SC, entre a família e antigos amigos", lamenta.

De família gaúcha e nascida em uma pequena cidade do Paraná, Priscila acredita que ter vários familiares na polícia influenciou na decisão em seguir esta carreira. "Também sempre tive um senso de justiça muito forte, o que pesou na escolha."

Após pedir oficialmente reconhecimento de seu nome social e de poder utilizar banheiros e alojamentos condizentes com seu gênero, ela conta que precisou esperar um longo tempo em que a corporação estudou seu caso. 

A PM-SC, fundada em 1835, se preparou para recebê-la organizando palestras com especialistas de gênero e sexualidade para as tropas. "E isso ajudou muito. Após a decisão favorável, a volta se deu de forma muito natural", relembra. "Sou tratada pelo meu nome e gênero de forma muito natural, posso assim dizer."

Para esta conquista, a policial contou com apoio de organizações e serviços, como o Centro de Pesquisa e Atendimento a Travestis e Transexuais (CPATT), em Curitiba ("que me deu suporte médico e psicológico para poder enfrentar essa luta"), a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), e a Aliança Nacional LGBTI.

Às pessoas semelhantes que desejam seguir carreira militar, ela aconselha: "Em primeiro lugar, acredite que seus sonhos são possíveis. Estude, se prepare, aprenda sobre seus direitos, conheça as instituições que lutam por você e ajude a fortalecê-las. E, se quer ser policial, lembre-se que deve ser exemplo e sempre buscar a justiça e a igualdade."


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