'Policial não vê a hora de poder bater em gays', diz investigador

Paulista afirma que convive com a homofobia na polícia há 23 anos

Publicado em 25/10/2018

Policiais querem bater em gays, diz investigador

Investigador da Polícia Civil há 23 anos em São Paulo, Alexandre Felix Campos afirmou que parte dos policiais não vê a hora de Jair Bolsonaro (PSL) ser eleito para poder bater em gays.

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"Não escuto os policiais dizerem 'poxa, agora vamos poder buscar o traficante x', 'vamos combater o narcotráfico', 'os grandes estelionatários'. Não, o policial só fala que não vê a hora de poder descer a mão no maconheiro da USP e no viado. É isso que, infelizmente, acontece", disse Campos em entrevista ao site Carta Capital.

E continuou: "Vivemos um momento que, para mim, tem sido extremamente complicado, porque todo dia escuto alguma coisa do tipo 'quando Bolsonaro ganhar a gente vai descer a borracha nesses viados' ou 'agora quero ver maconheiro da USP folgar com a gente'."

O investigador deu um exemplo de homofobia que teria ocorrido na quarta-feira 24. "Ontem eu estava no plantão policial na Zona Leste de São Paulo e chegou um casal de gays, com maquiagem no rosto. Foram lá porque sofreram golpe de um banco, pegaram o cartão de um deles e praticaram fraudes."

"Foram só fazer boletim de ocorrência. Eles chegaram, se apresentaram e a primeira coisa que o colega policial disse foi: 'quando o ‘mito’ ganhar essa putaria vai acabar'. Não há nenhum tipo de justificativa plausível para esse ódio. Até porque os garotos foram extremamente educados, em momento algum fizeram qualquer tipo de agressões a nós. Quando buscam a polícia, as pessoas buscam o Estado. E com atitudes como essa a gente só reforça a ausência do Estado."

Campos dá outro exemplo, o da travesti Priscila, assassinada na madrugada do último dia 16, no Largo do Arouche, região central de São Paulo.

"Veja, por exemplo, a morte da Priscila no Largo do Arouche. Algumas pessoas que estavam lá viram os caras que bateram nela. Como estou na militância, me ligaram para avisar que haviam visto os agressores, que estavam sempre por ali. Fui até a delegacia e tentei conversar com o delegado para ouvir essas pessoas."

"O delegado simplesmente se recusou a ouvir essas pessoas. E ainda me ameaçou, de forma velada, que se eu continuasse ali eu seria preso por advocacia administrativa (quando um funcionário público usa seu cargo para patrocinar, direta ou indiretamente, interesses privados perante a administração pública).

O investigador prevê piora na violência contra LGBT. "As pessoas já estão espancando gays, lésbicas, trans nas ruas e gritando que o fazem em nome de um candidato à Presidente da República. E os policiais batem palmas, do tipo 'ah legal, agora vocês vão se foder mesmo'. Então, infelizmente, esse é o clima que vejo. E deve haver um endurecimento nos próximos dias. Não é algo nem para o próximo ano."

Entretanto, Campos ressalta que nem todos os policiais pensam da mesma maneira. "Mil policiais fazem parte do grupo 'Policiais Antifascismo', que é apoiado por outros 10 mil membros da Polícia Civil e alguns poucos da PM."


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