A polícia resgatou 31 mulheres transexuais e travestis que estavam em condições análogas à escravidão.
Pamela Volp, que foi a primeira vereadora travesti eleita em Uberlândia (MG), é apontada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Minas Gerais, como uma das líderes da organização criminosa.
Das resgatadas, 19 estavam em Uberlândia e 12 em Criciúma (SC). Profissionais do sexo, elas eram forçadas a trabalhar com base em ameaças para pagar dívidas contraídas que jamais conseguiriam ser pagas.
O endividamento se dava principalmente para financiar procedimentos estéticos, como a colocação de próteses nos seios e de silicone industrial - que pode causar sérios riscos à saúde - em várias partes do corpo.
Elas também eram cobradas por moradia e pagavam multas se não seguissem regras, tais como horário de voltar para as pensões. Quanto mais faturavam com o trabalho, maior era o valor exigido delas, o que transformava a dívida em impagável.
Casos de violência e intimidações - como a história de uma travesti que teria tido as próteses dos seios retiradas sem anesteria - eram ações corriqueiras usadas contras as vítimas.
"As regras eram tão abusivas que, na prática, elas chegavam a pagar para se prostituir. Trabalhavam em troca de teto, comida e o direito de poderem trabalhador", afirmou a auditora fiscal do trabalho Jamille Virgínio, ao UOL.
Endereços visitados pela sexta fase da operação "Libertas", iniciada na terça-feira 15, estavam no nome de Pâmela.
Eleita vereadora em 2016 pelo PP, Pâmela havia sido condenada dois anos antes, junto a outras seis pessoas, pela Justiça Federal por envolvimento com tráfico internacional de pessoas.
Segundo o G1, conforme a decisão, o esquema envolvia o "comércio" de travestis e mulheres cisgêneros para países como Itália e Espanha. Na época, Volp e outras duas pessoas foram apontadas pela Justiça como chefes do esquema e foram condenadas a cumprir pena em regime fechado.
Pamela recorreu da decisão e o caso foi para segunda instância. No julgamento, ela foi absolvida pelos crimes de tráfico de pessoas e rufianismo - quando a pessoa toma vantagem da prostituição alheia. Porém, Pâmela foi condenada pela pena mínima pelo crime de favorecimento à prostituição.
Volp ainda teve o nome ligado na Operação “Má Impressão”, desencadeada pelo Gaeco em 2019, que apurou esquema de desvio de verbas indenizatórias por meio da contratação de serviços gráficos.
Em 2020, ela teve o mandato cassado na Câmara Municipal de Uberlândia.
Em novembro passado, Pamela e sua filha Paula Volp foram presas acusadas de latrocínio contra travesti em 2018, além de outros crimes, tais como exploração sexual, associação criminosa, roubo e ameaça e porte ilegal de arma de fogo.
Na quinta-feira 17, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais concedeu habeas corpus para Paula Volp.