Editorial
O novo fascina, faz sentir que houve evolução, parece nos levar a um bom lugar, seduz por pretensamente ser atual e/ou apontar o futuro. Mas ouça o estalo da criticidade e encare o fato: o novo pode apenas iludir e, na verdade, ser somente cara recauchutada para algo velho e abjeto que tinha ficado para trás.
É triste ver que um dos exemplos mais recentes do quanto o novo pode ser apenas uma ousadia hipócrita vem do movimento LGBT.
Do que se fala? Da tal nova versão da bandeira do arco-íris, símbolo máximo e mundial da luta e da identidade do segmento.
Sobre as seis faixas que fizeram e fazem (e farão) história desde o fim da década de 1970, uns cavaleiros da boa nova (como querem ser vistos) botaram como que triângulos em contorno e cheio.
E querem iludir: "Aqui uma bandeira inclusiva!".
O que vê é, sob o véu do bom-mocismo, apenas nova forma de algo que o movimento LGBT luta para abandonar a cada dia, já tinha vencido muitas batalhas nesse sentido e que ainda precisa avançar para superar: a exclusão de lésbicas e bissexuais.
Três segmentos têm o nome visibilidade em suas datas: trans (29 de janeiro), lésbicas (19 e 29 de agosto) e bissexuais (23 de setembro). Homossexuais masculinos, no Brasil, celebram o Dia da Afirmação Gay (28 de fevereiro).
Pois daqueles três segmentos, quantos você vê na tal bandeira novidadeira? Apenas um! Trans!
A luta femininista e lésbica, a jornada e a voz bissexuais? Não existem!!!
Aqui como o novo ilude: tal exclusão é apenas reencarnação de algo velho que é a sanha de alguns do movimento em menosprezar lésbicas e bissexuais!
Erguer a tal "bandeira da inclusão" é hastear a incoerência.
Esse é o nome: incoerência! Afinal, esse substantivo consegue dar conta do fato de até soltarem posts lindos nos dias das visibilidades bissexual e lésbica, colocarem o L na frente da sigla, mas, na hora de elegerem a nova cara da bandeira na atual estação do ano, exibirem trapo que cala a existência e a resistência desses dois segmentos.
A bandeira arco-íris é exemplo máximo de inclusão justamente por ela não marcar apenas um, dois ou três segmentos dos inúmeros que compõem o movimento. Por ela não ter uma parte de nós, ela tem todos nós. E cada segmento possui sua bandeira própria.
Novas propostas são tão inconsistentes que, de troca em troca, está-se na terceira ou quarta versão em poucos anos. E já começam a aparecer outras!
A máscara não se sustenta: o novo grito da modinha em cima da bandeira histórica arco-íris é apenas a oficialização de que muitas lideranças LGBT querem: apagar vozes de lésbicas e bissexuais para que as delas continuem a ser as únicas.
Faz jogo dessas lideranças quem adota acriticamente a tal bandeira nova: são os inocentes úteis. Evite desempenhar tal papel!
E esse não é o único problema do tal novo símbolo! Há lista a ser detalhada em outro momento para continuar a mostrar que o que precisamos não é de uma nova bandeira, mas de atender de forma real o necessário e velho clamor por respeito dentre nós.
Por ora (e para sempre) dizemos com voz altiva: não cuspam na bandeira arco-íris chamando-a de excludente - pois ela não o é - e afastem do movimento esse calem-se!