O ativista LGBT em atuação há mais tempo no Brasil, o antropológo Luiz Mott, mostrou muitos senões aos rumos que o ativismo identitário tem tomado nos últimos tempos.
Em artigo no jornal A Tarde, o fundador do Grupo Gay da Bahia, em 1980, atacou posturas que, no entender dele, têm ficado cada vez mais radicais e contraditórias. Houve até comparação da luta identitária com a Santa Inquisição.
"Lastimavelmente, temos presenciado posicionamentos cada vez mais radicais de certas lideranças das minorias sociais. Pior ainda: oprimidos de ontem transformaram-se hoje em opressores."
Para embasar sua visão, ele cita falas de ativistas e valores que têm se fixado nos movimentos identitários.
"Defendem o Black Power, a supremacia do matriarcado, carregam faixas declarando que 'miscigenação é genocídio'."
E continua com BBB21: "Negra recusando a um negro sentar-se na mesma mesa, negro bissexual propondo a exclusão de todos os brancos da casa, preta desqualificando a vagina desbotada da colega loira. Mondo cane".
O estudioso ainda se opõe a conceitos caros aos movimentos sociais.
"Lugar de fala pertence a todos humanistas que defendem igualdades de direitos, não apenas à voz das minorias. Apropriação cultural não é apenas a "rapina" dos descendentes de colonizadores, mas a toda troca de elementos culturais, seja dos turbantes árabes por negras e brancas, seja do bordado richilieu e das contas de Murano pelo povo da Axé."
E termina: "1821-2021: dois séculos de extinção da Inquisição".