Homem se descobre gay aos 68 anos após ir a praia de nudismo

Professor, que foi casado com mulher duas vezes, se orgulha de si mesmo e sonha em ir a uma parada LGBT

Publicado em 06/07/2020
gay idoso
Hoje aos 79 anos, homem frequenta points gays e vive em aldeia francesa. Foto ilustrativa

Cada um tem a sua hora para sair do armário e a de Roland* foi aos 68 anos após conhecer uma praia de nudismo.

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Nascido em Bath, sudoeste da Inglaterra, o homem hoje aos 79 anos contou sobre sua trajetória à revista Têtu.

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Pai de três filhos, divorciado da primeira mulher e viúvo da segunda, Roland nasceu em 1941, em uma época em que "não era normal ser gay".

Quando adolescente e morando em Londres, Roland sabia que seu irmão mais velho frequentava bares gays e que chegou a morar com um homem.

Ao tentar conversar com a mãe sobre o irmão, recebeu evasivas. "Meus pais nunca disseram a palavra 'homossexual', era um tabu", conta.

O irmão, que nunca foi rejeitado nem totalmente aceito pelos pais, morreu aos 25 anos, sem que Roland conversasse com ele sobre homossexualidade.

Roland, então, se formou professor de matemática, se casou e se separou. "Minha esposa encontrou outro homem. O divórcio foi muito difícil, e ela tinha a guarda de nossos três filhos."

A mulher dificultava as oportunidades para que Roland visse os filhos. Um dia se mudou e ele perdeu totalmente o contato com eles.

Porém Roland encontrou o amor novamente com uma professora de francês. Eles compraram uma pequena casa em uma vila em Aude, no sul da França.

Em 2002, o casal se mudou para o local, mas a mulher morreu três anos depois. "Eu pensei que terminaria minha vida com ela", diz. 

Roland estava com 64 anos e voltou a conhecer mulheres. "Naquela época, eu não me perguntava sobre minha sexualidade."

E tudo mudou quando um amigo gay dele, Luc, o chamou para conhecer uma praia naturista em Saint-Pierre-sur-mer, na costa do Mar Mediterrâneo.

O amigo lhe contou sobre uma área atrás da praia que era de "pegação" gay e Roland decidir ir lá "para ver". 

"Fui direto da praia de nudismo, nu", relembra. Ali, ele transou com vários homens. Questionado sobre o que aconteceu em sua mente na época, o homem responde: "Foi mais no coração que tudo aconteceu".

Roland acabou tendo um romance com Luc - hoje permanecem amigos - e "se soltou". 

Ele passou a frequentar points e bares gays de Carcassonne, Béziers, Toulouse, e sobretudo o bairro do Marais, em Paris, o que mais concentra endereços gays na capital francesa.

"Ele não tinha medo de mostrar sua homossexualidade", diz Luc. "Quando ele começou a vestir camisas rosa e camisetas curtas, foi uma mudança engraçada. Havia um lado um pouco ingênuo e comovente em sua maneira de descobrir este mundo com admiração."

Roland passou a postar fotos de jovens nus e reportagens sobre direitos LGBT em sua página no Facebook. Com isso, alguns amigos o excluíram da rede social. "Mas ganhei muitos outros", conta.

Com sua irmã mais nova, único membro da família com quem tem contato atualmente, a conversa não foi fácil. "Ela levou muito tempo para aceitar, mas agora está tudo bem."

Na vila em que mora, Roland tem uma vida discreta. "Talvez as pessoas saibam, mas eu nunca tive problema".

Ao ir a bares gays, ele diz que já foi chamado de "bicha" por adolescentes, mas não se importa. "Sou como sou e tenho orgulho disso. Se as pessoas não aceitam, isso é problemas delas, não meu."

Roland diz que gostaria de morar em Paris, onde a comunidade gay é maior e mais aceita e onde também vive seu namorado, mas a vida na capital é muito cara.

Mas ele não reclama. Roland encontra vantagens na sua vida no campo, continua indo a Paris uma ou duas vezes por ano, e desfruta a calmaria local.

Ele revela que está feliz por ter escapado do novo coronavírus e pretende realizar um sonho em novembro: ir pela primeira vez a uma parada do orgulho LGBT, para quando está marcada a marcha parisiense.

*O nome foi trocado a pedido do entrevistad


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