Conhecido pelo menor número de pobres e por ter o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da América Latina, o Chile terá de enfrentar número denunciado por ativistas LGBT: aumento de 14,7% de discriminação em 2020 em relação ao ano anterior.
O quantitativo está no 19º Informe Anual de Direitos Humanos da Diversidade Sexual e de Gênero, elaborado pela principal entidade arco-íris do país, o Movilh.
De acordo com o estudo de 450 páginas, houve 1.266 episódios de discriminação em 2020. No ano anterior, o quantititativo foi de 1.103.
A entidade avalia o cenário como grave. A cifra do ano passado foi a maior já registrada em 18 anos e representa sozinha mais de um quinto de todos casos desde 2002.
Dentre os segmentos, há destaque para gays, que são maioria dentre as vítimas e que ainda sofreram crescimento mais acentuado.
Do total de violências registradas em 2020, 26% afetaram gays, 15% lésbicas, 11% trans e 48% toda população LGBT.
Em relação a comparação entre ano passado e 2019, subiu 78,4% o quantitativo de abusos contra gays, 46,8% contra trans, 8,28% contra lésbicas e 6,26% contra a população em geral.
Nos 18 anos de estudo, homossexuais masculinos também estão no topo do ranking total de vítimas por segmento, com 20,3% dos casos. Em seguida, vêm trans (15,9%) e lésbicas (14,3%). Não há registro de casos contra pessoas bissexuais.
Quanto aos tipos de discriminação ocorridas em 2020, o mais comum foi a exclusão institucional (379 ocorrências). Em segundo está a discriminação comunitária (253) e, em terceiro, falas discriminatórias (209). O país registrou 6 assassinatos de LGBT no total.
Como explicação para os recordes que tiveram forte crescimento anual desde 2018, a entidade afirma que não é possível creditá-los apenas ao fato de mais LGBT estarem cientes de seus direitos e com mais empoderamento para fazer denúncias.
"Há definitivamente um clima de hostilidade maior agora do que havia antes, assim como existe total silêncio do Estado, que não rechaça as violações, o que contribui para gerar a sensação de impunidade."
O Chile, com pouco menos de 19 milhões de habitantes, não reconhece o casamento homossexual. A união civil é legal desde 2015.
Pessoas trans têm direito a mudar seus documentos desde 2018. A discriminação por orientação sexual é crime no Chile desde 2012, quando nasceu a Lei Daniel Zamudio, nome de jovem gay que foi torturado por horas por um grupo e morto. O caso comoveu o país e levou à aprovação da norma.