4 erros e 1 acerto de quem critica verba pública em paradas LGBT

Será que os nosso inimigos realmente estão preocupados com os cofres do Estado?

Publicado em 18/11/2017
parada lgbt financiamento
Paradas são espaços de direitos humanos, gera empregos, tributos. E mais: LGBT são povo, viu? (Foto: Elle Fortes)

O bispo no poder na cidade que tem a parada LGBT mais antiga do Brasil (Força, Rio!) colocou em debate - sob a baba espumosa dos homofóbicos - a destinação de recursos públicos para as marchas. 

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Tendo em vista que "inimigos não mandam flores", não é de se esperar qualquer comentário isento vindo de quem deseja que LGBT voltemos aos armários. 

Nessa onda, é possível identificar quatro pós-verdades às quais devemos combater e uma ideia que, sim, a comunidade arco-íris e as organizações de marchas devem seguir (do esterco também podem surgir flores)!

1) "Gastar dinheiro com essas coisas de LGBT? Esse recurso é do povo!?"
Como sempre dizemos: "Sociedade e Estado sabem negar direitos, mas não precisam de ajuda alguma para igualar deveres!"

Seja no gel lubrificante íntimo, no whey protein, no bacon ou no cílio postiço, nós LGBT pagamos tributos como qualquer hétero cis!

Temos de avisar: "O pacote de arroz não é mais barato para trans, não, viu?", "Gasolina para bissexual não tem 2% de desconto, não, viu?"

Portanto, o dinheiro público também é nosso, de LGBT! E, espero que os hidrofóbicos não se choquem, mas temos de dizer a eles: também somos povo, cidadãos, munícipes, contribuintes, brasileiros!

2) "Querem rebolar, que façam sem dinheiro público."
Rebolemos, e não só! A parada e as programações a ela ligadas têm dimensões múltiplas.

Ela é lócus para expressões de cultura, é momento para promoção de ações de saúde, gera emprego e renda; promove o turismo; reafirma compromissos de direitos humanos; educa para o respeito, pode abrigar eventos esportivos e de lazer. 

Nessas poucas linhas já estão envolvidas pelo menos cinco secretarias presentes nas estruturas administrativas de municípios, Estados e Governo Federal. Portanto, espaço e momento para ação em políticas públicas!

E está dentro do conceito sim da cidadania a aglutinação social em eventos. Estão nesse balaio feiras de literatura, carnaval, festas de colheita, festivais e cultura e tantos outros. 

3) "Tem de gastar com saúde, escola... E não dar dinheiro para esse povo (peguei leve aqui no 'povo')"
Primeiramente, não é dar! Volte duas casas!

Segundamente, para não gastar muito a beleza, vamos a fatos. 

Dados oficiais da prefeitura do Rio mostram que turistas homossexuais gastam 124% a mais que o turista médio. A prefeitura de São Paulo gasta com a parada cerca de R$ 1,4 milhão e vê, em estimativas comedidas, cerca de R$ 160 milhões circularem na cidade em quatro dias por conta da marcha. 

Sabe onde esse pink money vai bater? Nos cofres públicos, em forma de imposto! 

Recurso para saúde, segurança e educação, até hoje, não brotam do chão! Se amanhã começarem a brotar, que se apague esse tópico! 

Sim, parada LGBT também, se em bom planejamento, é investimento! 

E se o que tira o sono dessas pessoas são as finanças públicas, fica uma dicazinha: olhem a isenção de impostos e taxas dada a igrejas! Aí não é gasto de dinheiro público, já que a grana nem entra no cofre público, mas no bolso de algum líder religioso! 

Portanto, que parem de usar alguns milhares de reais cedidos a paradas LGBT Brasil afora para tentar escamotear milhões não arrecadados em impostos a cada dia no país para beneficiar congregações religiosas. 

Já ouviu algum religioso pedir dinheiro para educação e achar absurdo igreja colecionar diversos privilégios tributários? Nem eu! Lavagem cerebral funciona, prova-se!

4) "Dinheiro público para essa falta de vergonha... Absurdo!"
Fica o desafio aqui: quem disser isso, me convide para irmos juntos a uma parada LGBT. Do início ao fim! Gravarmos tudo! 

Sendo sincero: se as paradas LGBT fosse toda essa Sodoma e Gomorra que os hidrofóbicos pintam, até que eu não reclamaria muito. Mas o ponto é: simplesmente não são! 

São eventos com discursos políticos, cartazes, mães e pais, autoridades públicas, artistas, jovens, idosos, catchorros. E sim, há beijo sim, há clima de festa sim! E daí? 

Sobre excessos, ora, ora, são dezenas de milhares de pessoas! Não tentem definir as marchas com base no que a minoria da minoria possa fazer. 

Ou será que podemos julgar toda uma igreja pelo que a minoria dos fiéis fazem, por exemplo? Querem realmente usar essa regra? Vamos ter de pedofilia a lavagem de dinheiro!

A busca
Postos os quatro argumentos falaciosos que são ouvidos pelas calçadas da vida (reais ou virtuais), falemos, veja que irônico, de uma fala que deve sim ser absorvida.

Paradas LGBT precisam buscar mais fontes de recursos financeiros tanto junto à iniciativa privada quanto em autogeração. 

Festas, shows, campanhas de arrecadação, artistas com cessão de cachê, propostas bem estruturadas para captação de patrocínio junto a grandes e médias empresas. 

Precisamos sim ver outras formas de fortalecermos nossa marchas. Não depender apenas do governo. E se houver como, até nem precisar dele de forma fulcral. 

Agora, quando empresas disserem que não apoiarão a parada porque haveria reações dos hidrofóbicos, apenas lembremos: se buscamos recursos públicos, atacam. Se vamos a recursos privados, atacam.

Máscara cai fácil: na verdade querem é nos cercear!

Jesus, volte! E leve-os! Ajudamos a pagar a gasolina! 


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