Por Welton Trindade
Homens bem dotados, amor, fisting, companheirismo, dupla penetração, respeito. Prestes a completar um ano de carreira como ator pornô, o gaúcho Anderson Alves, o Andy Star, mostra que aqueles itens podem muito bem conviver entre si e até se complementarem.
A performance de Andy como passivo impressiona. Poucas vezes o pornô gay brasileiro teve um ator nessa posição tão entregue em cena e tão sem limites. É de dar orgulho - dentre outros sentimentos gostosos!
O que começou com um vídeo de sexo repassado por WhatsApp hoje é um trabalho e grande aprendizado humano para Anderson, tal como o fato de ele ter desconstruído a falta de tesão em pessoas com deficiência após gravar cena inédita com um. Viu como as coisas podem ser mais profundas no pornô do que aparentam?
Andy conversou com nosso site. Leia a entrevista:
É verdade que você começou no pornô depois de vazar um vídeo seu transando?
Em 2015, em março, acredito, um vídeo íntimo meu foi publicado no WhatsApp e, devido ao sucesso dele, a maneira como ele se espalhou pela internet, eu tive problema no meu trabalho. Logo depois da minha demissão, a HotBoys [produtora pornográfica brasileira gay] resolveu, junto comigo, lançar um personagem safado, que fizesse coisas diferentes, muito despudorado.
E seguimos por esse caminho, de não fazer um menininho passivo, submisso ou que fosse dominado, mas alguém que entende sua sexualidade e faz muitas coisas. Pode-se dizer que o Andy Star é um dos atores passivos mais ativos que existe porque eu sou muito ativo em cena.
Você participa com ideias para as cenas e na escolha do elenco que interage com você?
Eu participo de ideias, sim, mas a escolha de elenco é com a produtora. As próprias companhias têm roteiro, direção. Você pode tentar colocar os seus 'cacos', mas tudo é autorizado, nada é feito sem um preparo.
O mais próximo de escolha de elenco que um ator pode chegar é indicar alguém, que falou com ele e que se propôs a gravar. Você acaba oferecendo essa pessoa para o site, o site gosta, e pode calhar de vocês gravarem juntos. Não é você escolher, mas seria como uma ajuda na escolha do elenco.
Você sente prazer no sexo feito durante as gravações?
Mesmo com toda essa responsabilidade, existe, sim, uma manipulação do pênis, da próstata, isso tudo causa prazer, mas é algo muito físico. É muito raro que durante um trabalho você consiga ter um envolvimento emocional.
É impossivel dizer que não há prazer, mas é algo muito comedido, controlado. É um prazer muito carnal. Não é uma ligação maior do que aquela que existiria numa relação comum do dia a dia. O que há é uma relação profissional, um comprometimento para que a cena dê certo.
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Qual sua relação com a Hot Boys?
Não tenho contrato de exclusividade. Já gravei com outras companhias, até com ajuda da própria Hot Boys. O que existe aí é muita gratidão muito grande de minha parte à toda equipe e ao site por tudo o que fizeram por mim, pelo apoio.
Quanto você ganha por cena?
Os valores a gente não cita, isso vem no contrato. Mas o valor oficial é R$ 500, mas, em geral, os atores tiram de R$ 500 a R$ 1.500. Existem atores muito mais requisitados, com muito mais importância, que devem cobrar um outro valor, então, não posso dizer qual é o teto pra esse mercado. Só posso falar o que eu recebi.
Como é o universo pornô?
Diferente do que eu até mesmo pensava e outras pessoas pensam, existe muito mais colaboração dentre as pessoas que trabalham com isso do que a tentativa de passar a perna.
A gente sabe que se uma empresa vai bem, a gente, que é ator, vai bem. A gente sabe que se um ator que contracena com a gente vai bem, a gente também vai ter mais chances.
Eu me surpreendi muito positivamente. Porque coisas que eu não consegui ver em outras áreas em que trabalhei, tal como a do comércio, como companheirismo, eu consegui ver nesse mercado.
Dentre suas performances, a cenaem "O Perneta Dotato", com Paulão, que não tem uma das pernas, foi algo que marcou o pornô nacional. Como foi gravá-la?
Houve um extremo cuidado meu e da empresa para que aquilo não ficasse pejorativo. Antes de aceitar a gravação, ficou acordado que a cena seria de bom gosto. E devido a essa antecedência, eu tive tempo de pensar sobre o assunto.
Eu fui a sites de ajuda para saber qual seria a diferença, a dificuldade. Foi um grande aprendizado ter feito essa cena e ter me preparado para ela.
O foco principal de ter feito o filme foi desmistificar esse pré-conceito que a gente tem. Existe a cobrança pela perfeição, não vou dizer que é totalmente errado, mas o que foi feito com cuidado foi mostrar o quanto é igual ficar com um deficiente físico e não o quanto é diferente.
A cena mudou algo em você no nível pessoal?
O maior ganho que tive foi pessoal. Semanas depois fui à praia e chegou um garoto que usava prótese nas duas pernas. Em vez de olhá-lo com pena, eu olhei pra ele como mais um homem, olhando a forma do corpo e vendo a beleza, sem cortar aquele sentimento que eu teria por um homem comum, que tivesse as duas pernas.
Em um dos sites que falaram do vídeo, eu cheguei a ler comentários preconceituosos e pequenos. Mas existiram também comentários de pessoas que têm algum tipo de deficiência ou que ficam com pessoas com deficiência. Isso foi muito bom porque se falou de um assunto sobre o qual não era tratado. Isso foi interessante. Se eu não me engano, foi o primeiro filme gay com esse assunto no Brasil.
Como é o trabalho de acompanhante?
Como fazer programa não é minha principal fonte de renda, eu posso escolher e valorizar o cachê. Até porque eu ofereço serviços diferenciados, inclusive eu permito que filme. Acaba que isso valoriza mais meu serviço e eu cobro por meu direito de imagem. O valor mais alto que já me pagaram foi R$ 400 para um casal, mas os verdadeiros 'escorts' cobram muito mais.
E qual seu diferencial?
Por exemplo, num programa, um 'escort' normal vende o fato de te comer ou de dar pra você e depois ir embora. No meu programa, além de haver sexo, se a pessoa contratar isso, ela também gosta do fetiche de alguém que se veste do jeito que o personagem se veste, que se comporta com o despudor que o personagem tem, e que topa fazer coisas típicas do personagem.
Aí há sexo com mijo, brincadeira com a mão, usar brinquedos tais como dildos, algemas e couro. Isso é um diferencial, essa psiquê do personagem. É um mercado que tem aí e que serve para gente explorar.
Quais seus planos na carreira?
Eu tinha metas que foram alcançadas, que eram sites específicos que eu queria fazer. Eu acho que os planos envolvendo essa carreira seriam fazer novas cenas com esse tema de inclusão porque isso deu sentido ao trabalho e valorizou a indústria do pornô.
Eu, Anderson, por enquanto não pretendo voltar ao mercado formal de trabalho porque a carreira que eu seguia, que é o comércio, foi muito atingida pela crise, então, não seria inteligente em vez de trabalhar com mercado pornô tentar voltar ao mercado formal de trabalho. Não seria nem possível nesse momento.
O Andy adora "leite", homens bem dotados, dupla penetração, fisting, sentir dor. E o Anderson?
Eu costumo pensar que o Andy Star é escorpião, daí ele é totalmente fogo. E o Anderson é Libra. E libriano é uma peste de tão romântico. Toques, olho no olho, isso são coisas que realmente mexem comigo sexualmente.
Claro que todas as práticas mais diferentes e carnais fazem parte do que gosto, mas de vez em quando é bom sim fazer com carinho, sem preocupação com o hard, a violência. Sem ser um dominado e um dominador, mas sim duas pessoas entregues.
Eu estava há muito tempo sem sentir isso, mas, em uma das viagens que fiz para São Paulo, eu me permiti sentir isso novamente. Hoje em dia eu tenho a capacidade de saber que a vida não é só o pornô, que a vida é amor e sexo.