Por que viver o sexo de forma saudável não é contra o amor a Deus

Publicado em 15/10/2015
Padre Beto fala de sexo e religião
'É inacreditável que no século 21 a sexualidade ainda seja vista como algo negativo'

Hiroshima, Mon Amour
Em 1959, uma jovem francesa passa a noite com um japonês em Hiroshima, onde participa de um filme sobre a paz. Ele a faz lembrar de seu primeiro amor, um soldado alemão que conheceu durante a Segunda Guerra Mundial. O filme Hiroshima, Mon Amour, de Alain Resnais, é um discurso sobre o amor e a morte, sobre o sentimento que nos leva ao encontro com o outro e as limitações da vida que nos colocam obstáculos à nossa transcendência. A vida é um impulso de expansão e a busca das superação do que somos agora. Nesse contexto, o amor e a sexualidade são elementos fundamentais para o viver.

Sexo e o amor de Deus
Hoje é incrível como vemos com naturalidade líderes religiosos falando de fé e pregando o Cristo como se estivessem vivendo em uma sociedade justa. O pecado para a religião se tornou algo absurdo e sem reflexão. Outro dia, estava ouvindo um discurso de um professor de teologia da Canção Nova que deixava claro que o pecado que existe no ser humano é a vivência da sexualidade.

Para esse tipo de teologia, a sexualidade é uma mácula, um pecado original que está no ser humano e contra ao qual devemos a todo custo lutar. Controlar a sexualidade, dizia o professor, é demonstrar amor a Deus. O jovem que não se masturba, dizia o professor, demonstra amor para com Deus. Os namorados que não possuem uma relação sexual demonstram amor para com Deus.

É simplesmente inacreditável que, em pleno século 21, a sexualidade ainda seja vista como algo negativo e a sua vivência uma demonstração de deslealdade para com Deus. Ora, Deus nos criou seres sexuados e o sexo não surgiu no homem pelo pecado, mas representa a natureza divina que temos. A energia sexual é algo muito belo e prazeroso. O ser humano que vive de forma saudável sua sexualidade se transforma em um ser centrado e pleno em suas outras dimensões.

O sexo em si não é pecado. O pecado é o desamor. A masturbação não é desamor, a relação íntima e consentida entre duas pessoas adultas não é um ato de desamor. Em vez de lideres religiosos quererem castrar a sexualidade dos jovens, deveriam alertá-los de que qualquer ato de desamor é um pecado. Não é o sexo que nos afasta de Deus, mas os desejos e atos que destroem a vida e o ser humano.

Por isso, em vez de líderes religiosos ficarem tão preocupados com a genitália de jovens e adolescentes, eles deveriam estar escandalizados com o sistema público de saúde que temos, deveriam estar gritando contra os gastos milionários para a construção de estádios da Copa do Mundo ou as estruturas para a Olimpíada, deveriam estar saindo às ruas com suas comunidades exigindo o aumento de salário dos professores da rede pública de ensino, exigindo o aumento de salário dos policiais e o aumento da aposentadoria dos filhos de Deus que precisam continuar trabalhando na terceira idade.

Que tipo de pregação sobre o amor de Deus é essa que valoriza regras morais da época vitoriana e fecha os olhos para problemas tão sérios que atingem o ser humano. Cada fiel que pertence a uma igreja deveria se perguntar: meu bispo já fez uma visita oficial ao pronto atendimento da minha cidade? O meu padre já visitou oficialmente a câmara municipal para exigir alguma melhoria para o bairro? Meu pastor já se envolveu concretamente para que o Estado venha a cumprir com os direitos fundamentais dos cidadãos, sejam eles seus fiéis ou não? Se a resposta for negativa, o fiel pode ter certeza que está fazendo parte de um clube social e não de uma verdadeira religião.


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