Padre Beto: O cristianismo erra ao condenar o riso e o prazer

Publicado em 30/07/2015
O cristianismo erra ao condenar o riso e o prazer, diz Padre Beto
'O riso e o orgasmo não podem ser dissociados da mútua entrega'

Desde muito cedo, observamos a capacidade das crianças de expressar um sorriso. Ao completar um ano de idade, desenvolvemos o senso de humor, ou seja, o entendimento para situações cômicas e engraçadas. Nessa fase, somos capazes, por exemplo, de reagir com uma bela risada ao ver a mãe chacoalhar de propósito a mamadeira ou fazer alguma careta.

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Sem dúvida, o humor e o sorriso são frutos de um estado de espírito, mas também não deixam de ser hábitos que podem e devem ser praticados. Existem aquelas pessoas que, a partir de seus primeiros anos de vida, não param mais de desenvolver a capacidade humorística e aumentar o hábito do riso. Outras, porém, desenvolvem sua potencialidade para o humor com timidez ou deixam que ela se atrofie quase que totalmente. "Por sofrer tanto neste mundo, o homem foi obrigado a descobrir o riso" (Friedrich Nietzsche).

A palavra humor vem do latim "humore" que significa substância líquida ou semilíquida. Na antiguidade, o humor era o remédio dos curandeiros para manter o equilíbrio dos líquidos do corpo. Este significado acabou se perdendo com o passar do tempo e, somente no final do século 20, começou a ser redescoberto.

Uma cena cômica, uma boa piada ou cócegas na barriga constituem, segundo muitos cientistas, caminho nobre para o inconsciente e um verdadeiro relaxamento da psique. Ao darmos aquela gostosa e solta gargalhada reativamos as mais antigas regiões do cérebro e descansamos as mais jovens. Surge um estado meditativo e nossa memória passa por um processo de purificação. Os problemas do cotidiano são esquecidos por alguns momentos e mais tarde possuímos mais força para enfrentá-los.

Mesmo que forçado, o humor é um meio de entender as adversidades do cotidiano com mais leveza. Até mesmo diante de doenças o riso provoca efeitos colaterais significativos, como mostra o filme Patch Adams - O Amor é Contagioso.

O humor também está intimamente associado à sexualidade. O riso e o orgasmo não podem ser dissociados do prazer, da alegria, do relaxamento e da mútua entrega. Pesquisas científicas já provaram que pessoas de bom humor possuem muito mais prazer no ato sexual e atingem com mais facilidade o orgasmo.

O humor e o hábito de rir são tão importantes para o ser humano que por todo o mundo proliferam os chamados "clubes do riso". Wiesbaden, na Alemanha possui um destes clubes. O curioso foi o local escolhido: uma antiga igreja abandonada. Sem dúvida, lugar mais conveniente não existe.

Tragicamente, o riso foi por séculos, dissociado da religião cristã. Ao contrário de Krishna ou Buda, Jesus Cristo é quase sempre representado com tímido sorriso ou em sofrimento.

Por muito tempo, o cristianismo reprimiu não somente o prazer, como também o ato de sorrir, o que significa, na verdade, uma terrível contradição com a mensagem de Jesus Cristo. O Deus da Vida não deseja outra coisa que não seja o sorriso do ser humano.

Jesus foi, com certeza, uma pessoa com senso de humor e de alegria contagiantes. Tanto seu nascimento como sua ressurreição são motivos de alegria (Jo. 8, 56; Lc. 1, 14) e a vivência da fé em comunidade não pode ser algo triste (At. 2, 46). O cristianismo deve ser a religião do riso, para quem acredita seriamente em sua mensagem. De qualquer forma, basta olhar para as diversidades de nosso cotidiano para perceber que o riso é algo sagrado. Portanto, mesmo sem vontade, sorria!

"A vida é muito importante para ser levada a sério" (Oscar Wilde).


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