5 frases que devem ser superadas para vencermos a aids

Ou aniquilamos essas ideias falaciosas e alarmistas ou é o HIV que triunfará

Publicado em 01/12/2015

hiv

Por Welton Trindade

Do hinduísmo e do budismo, tem-se o mantra. Uma única sílaba, uma palavra solitária ou uma frase sintética que tem, dentre algumas funções, canalizar energia para um pensamento e levar o indivíduo a um estado de contemplação.

Deixemos o alcance de tal intenção com os crentes e fiquemos com a necessidade de repetir, repetir e repetir ideias para que, no caso da luta contra o HIV/Aids, entremos em um estado, aqui, de superação da epidemia. Repeti-las e refletir o quanto elas nos têm nos impedido de avançar nessa guerra, que, pela primeira vez na história, dá mostras de poder ser vencida por nós e não pelo HIV. 

"Jovens se infectam atualmente porque não viram o Cazuza na capa da Veja." 
Em 1989, a revista Veja estampou um cadavérico Cazuza, vítima de aids, pouco antes dele morrer. Estava ali um contundente alerta do quanto o HIV poderia debilitar e, enfim, matar. Vamos destacar: 1989. Próximo dos 30 anos dessa data, como lidar com ativistas, autoridades públicas em saúde e médicos que colocam na conta do não conhecimento dessa época da epidemia a explicação do atual aumento dos casos de infecção? 

Ora, por que ver uma capa que retrata uma fase de enfrentamento do HIV pré-histórica frente ao que se tem hoje na medicina, em drogas e em controles? Que os jovens atuais vejam a capa, mas só para registrar o quanto avançamos e deixamos aquele terror para trás. E ponto. É irresponsável querer usar um fato tão longínquo para servir de argumento nos tempos de agora. Bicho-papão, não, por favor! 

Há muito, pessoas soropositivas, com tratamento correto, possuem ótima qualidade de vida, trabalham, planejam o futuro, enfim, vivem até bem melhor que muitos soronegativos. Problema com medicação, existe, claro, mas até nisso tem-se avançado. Portanto, não evoquem aquela fase para responder aos desafios atuais. Razão? O argumento é pura mentira! E com inverdade não se convence ninguém. "Sua verdade não corresponde aos fatos."

"Teste de HIV só com apoio psicológico."
O desafio posto pela Unaids (braço da ONU que cuida da questão do HIV) já pôs uma meta para o fim da epidemia do HIV em 2030: 90% das pessoas soropositivas testadas e cientes de seu status. A determinação tem feito revolução no Brasil. Desde 2015, o Ministério da Saúde adotou o slogan #PartiuTeste em suas campanhas e reforçou ações pelo diagnóstico. 

E quer-se mais! A Anvisa - notícia recente - está em fim de processo de normatização para venda dos testes de HIV em farmácias. Viva! Viva mil vezes! Teste em todo lugar, acessível, é disso que precisamos. Mas não é que há opiniões contrárias?! "Uma pessoa sozinha, em casa, recebe o positivo e vai se matar", vaticinam! Defendem o serviço público em que é um técnico, geralmente psicólogo, que informa ao testado.

Oras, ok, o impacto é grande para muitos ter a notícia na cozinha, mas isso é subestimar o nível de relação das pessoas com o HIV (que tem sido cada vez mais maduro) e ser por demais alarmista. Só para lembrar: na rede privada, o resultado sai pela internet! E já há iniciativa em Curitiba que entrega o kit do teste - feito por fluido oral - via Correios! Bora testar, sim! 

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Leviano usar a aids nos anos 1980 para convencer alguém a se prevenir hoje 


"Use camisinha."
Aqui o ponto é não é a frase, mas o tamanho dela. Camisinha sim, ela é 100% eficaz e o meio mais barato e acessível de prevenção - e não só contra HIV! Mas focar apenas o uso do preservativo é leviano por não abarcar a evolução que a ciência hoje nos proporciona. De novo, uma frase calcada nos anos 1980 que ainda insiste existir! 

Estratégia tem de ser a chamada prevenção combinada: camisinha, teste e tratamento (viu que o problema era o tamanho?). Continuar com a camisinha, mas testar-se sempre que houver situação de risco (como esperma na boca) e, em caso positivo, tratar-se com medicamentos em busca de tornar indetectável a carga viral, o que dificulta muito nova transmissão. A boa notícia é que o governo brasileiro já defende e divulga essa poderosa soma a favor da saúde e contra o HIV. Em vez de uma arma, que usemos as três. 

"Distribuir medicamento como prevenção incentiva mais sexo inseguro."
Há cerca de três anos, tornou-se política nacional a distribuição da profilaxia pós-exposição (PEP) para, dentre outros segmentos, homens que fazem sexo com homens. Em caso de sexo inseguro, iniciar a tomada de medicamentos contra o HIV dentro do limite de 72 horas após o ocorrido e a partir daí por 30 dias. Chance de evitar a infecção? Acima dos 90%. 

Autorizada a PEP, gestores e ativistas de HIV/Aids já lançaram olhos para a profilaxia pré-exposição (Prep), que é tomar de forma contínua o Truvada para evitar a infecção. O debate que nasceu na PEP robusteceu-se com sua irmã: adotar essas estratégias não seria incentivar o sexo inseguro? 

Oras, em primeiro lugar, se há tal desenvolvimento medicamentoso, ele não pode ser escamoteado em nome de moralismo ou alarmismo. Em segundo, por ele evitar apenas o HIV - e não a hepatites por exemplo-, a consciência de quem quer evitar qualquer DST continua altiva. E, finalmente e fatalmente, sejamos francos, quem quer sexo inseguro, vai fazê-lo de uma forma ou outra. O ponto aqui é oferecer as opções para diminuir danos. EUA e França já adotam essa estratégia. O Brasil está próximo, muito próximo. 

"Prefiro saber só quando estiver doente."
Nos trechos acima, foram apontados vários dedos para médicos, ativistas em HIV/Aids e gestores públicos em saúde. Hora de olhar o espelho! Devemos nos conscientizar, de vez, que quanto mais cedo se souber ser soropositivo, mais chances de garantir qualidade de vida. Eliminemos a ideia mortal de só querer enfrentar o HIV quando se cair de tão debilitado. A essa altura do jogo, a derrota fica assustadoramente próxima.  

Fácil comparar o medo de fazer o teste ao de não abrir uma fatura de cartão de crédito com medo de... fazer dívida. Parece que alguns ainda pensam que fazer o teste é que transmite o HIV! A dívida já foi feita. A infecção, se for o caso, já ocorreu. Agora é saber para traçar a forma de se cuidar. Medo de ter HIV, sim (e por isso proteger-se), mas um medo deve ser maior: o de ter e não saber! 

E vamos com um mantra do bem: HIV, três letras. Vida, quatro letras infinitamente maiores! 


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