Retrospectiva 2015
O que acontece no Brasil e no mundo em relação a LGBT

2015: mais um ano em que LGBT mostraram sua força política

O alerta prematuro que demos contra Eduardo Cunha foi mais um exemplo de nossa vigilância e poderio

Publicado em 20/12/2015
Cunha LGBT
Início de 2015: LGBT contra Cunha. Fim de 2015: quase toda sociedade com o mesmo grito

Por Eliseu Neto, psicanalista e coordenador nacional do PPS Diversidade.

Fundamental colocarmos em nossas reflexões de fim de ano uma que diz a respeito a nós, ao coletivo LGBT: sabemos realmente de nossa força política? Historicizemos a atualidade com vibrantes exemplos para contruirmos - e reconhecermos - a resposta. 

A famosa Revolta do Vinagre (em junho de 2013) começou com os protestos de Fora Feliciano, quando este assumiu a vaga do PT na Comssão de Direitos Humanos da Cãmara dos Deputados, com planos evidentemente anticristãos.

Esquecendo a determinação de "amai-vos uns aos outros", o parlamentar pretendia se lançar na mídia atacando o púbico LGBT. Indignados com tamanho disparate, LGBTs e os estudantes do passe livre tomaram as ruas, e foram seguidos por milhões de pessoas em todo Brasil, fartas de tanta bandalha.

Em 2015, a história se repete com o deputado federal Eduardo Cunha assumindo como presidente da câmara federal. Oportunamente integrado à bancada evangélica, o parlamentar pretendia pautar temas esdrúxulos, tais como o Estatuto da Família. Este senhor chegou ao cúmulo de inventar uma tal "ideologia de gênero", termo nunca antes visto.

Em nome dessa ideia, selou acordo entre fundamentalistas católicos e evangélicos para, sobre o absurdo pretexto de "evitar que crianças mudem de sexualidade", retirar dos planos municipais de educação qualquer referência sobre identidade de gênero ou orientação sexual, ignorando que, de acordo com a LDB, é função da escola preparar o estudante para a vida. A questão inclusive afeta diretamente as mulheres, já que as discussões de gênero também versam sobre o machismo, violência contra mulher, igualdade entre sexos etc.

Enquanto Cunha fingia ser firme presidente da Câmara, os LGBT já notavam seu autoritarismo, patriarcalismo e intolerância e foram às ruas gritar "fora Cunha"! As mulheres fizeram coro e agora toda a população está contra a permanência do politico como líder da Câmara. Durante sua campanha para a reeleição, até a presidenta Dilma foi atrás dos LGBT, enfatizando promessas sobre casamento homoafetivo, criminalização da homofobia etc.

Aliás, a pauta LGBT foi um importante tema das últimas eleições. Mesmo que as propostas não tenham se pautado em um desejo genuíno de transformação, ao menos nossa força foi reconhecida. Creio que nenhum outro movimento social coloca anualmente 1 milhão de pessoas na rua e ainda de forma alegre, pacífica e revolucionariamente libertária.

Somos o maior movimento social do Brasil. Estamos nos jornais, nas novelas, nas conversas de boteco e no ódio de quem vê que estamos mudando o mundo, revolucionando os costumes. Por meio do amor, do nosso desejo de igualdade, do fortalecimento de noções como dignidade humana, justiça, estamos deixando nossa marca na sociedade e vencendo a guerra ideológica.

Se a coisa parece estar feia, é porque os fundamentalistas precisam de um bode expiatório e tem pânico da nossa força. Não precisamos mentir, inventar termos, colocar freiras rezando nas câmaras legislativas. A força do nosso amor os apavora, a coragem que temos ao enfrentar violência com abraços e beijos é estarrecedora pra eles.

É chegada a hora de reconhecermos: juntos, somos fortes. Unidos, podemos mudar sim, com cada vez mais força, esse mundo machista, racista, homofóbico, transfóbico, misógino. Nossa luta tende cada vez mais a se universalizar, a batalha por um mundo onde toda forma de amar valha a pena, onde cada um tenha o direito de ser o que é.

Ainda falta? Sim, temos que converter essa força em atos concretos, nas urnas, elegendo deputados, vereadores e toda gama de governantes e representantes comprometidos com a nossa causa, como forma de garantir os direitos que nos faltam. Mas não resta dúvida que pouco a pouco faremos a revolução, sem ditadura, sem mentiras, sem opressão. Com amor, com união, nos tornamos fortes. Com a coragem de assumir nossa sexualidade ou identidade e de fazer valer nossos direitos, conquistaremos a igualdade e o respeito.

"Sem esperança esses 'nós' desistem. Eu sei que não se pode viver só de esperança, mas sem esperança não vale a pena viver" - Harvey Milk


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